Vestimento do saire completa
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O estilista Nilson Coelho, de 36 anos, faz parte da coordenação de Arte do Boto Cor de Rosa e trabalha há 15 anos na idealização de figurinos do grupo que já ganhou nove títulos no festival.
Coelho conta que ser responsável geral dos figurinos do Boto Rosa exige muito. São dias de dedicação total para levar ao público roupas que retratam o enredo defendido pelo grupo. “A criação das roupas é toda minha, faço através do enredo para combinar o que vamos estar apresentando no Lago [dos Botos - como é chamado pelos participantes o local das apresentações, conhecido também como Sairódromo] . Busco inspiração na nossa história, tentando apresentar o máximo de Alter do Chão, resgatar a cultura e mostrar para os visitantes aquela lembrança dos antepassados. A mesma pessoa que faz os desenhos das alegorias, desenha para mim. Eu tenho a ideia, e o desenhista passa para o papel”, explica o figurinista.
Este ano, Coelho começou a produzir os figurinos da festa há um mês. Produzir roupas de nove itens com tantos detalhes em pouco tempo é um desafio, mas o figurinista garante que é recompensador. “Como nem todo ano [a verba] sai com antecedência, tem ano que trabalhamos com menos tempo, até com 15 dias, 10 dias antes da festa. Esse ano estamos com mais tempo e tem uma pessoa que está me ajudando na parte da costura, o Rick Azevedo. O trabalho vale a pena, fico emocionado de ver os figurinos durante as apresentações, porque eu não só crio, mas também confecciono as roupas. Tenho uma ligação muito forte com os itens e com o conjunto geral do Boto. Para mim, é muito emocionante ver aquilo que criei já realizado. Ver tudo o que eu pensei dentro do Lago Dos Botos é muito gratificante”.
Com tantos anos de dedicação ao Boto Cor de Rosa, histórias para contar não faltam. “Ano retrasado eu terminei de confeccionar o vestido da Rainha do Lago Verde e na hora do teste o vestido descosturou, numa das bases o vestido arriou. Era umas 17 horas e seríamos o primeiro boto a apresentar. Naquele momento, fiquei desesperado e cheguei a pensar que não ia dar conta, mas eu respirei e disse: ‘Calma aí, controle. Vou ter que fazer’. Eu consegui e ficou perfeito. Foi uma das roupas mais bonitas que teve no Sairé”, recorda.
Alex Oliveira, figurinista do Boto Tucuxi
Alex Oliveira, de 42 anos, é o responsável pelos figurinos do Boto Tucuxi (Foto: Arquivo Pessoal/ Alex Oliveira)
Alex Oliveira, de 42 anos, é o responsável pelos
figurinos do Boto Tucuxi
Este é o primeiro ano que o administrador Alex Oliveira, de 42 anos, é o responsável pelos figurinos do Boto Tucuxi. Ele entrou no grupo há cinco anos para ser um dos personagens mais conhecidos da festa, o Boto Homem Encantador. “Antes eu já trabalhava na minha própria roupa e na roupa da Cabocla. Agora eu estou assumindo o figurino 100%, então é um desafio imenso ser responsável pelas roupas dos itens e ainda defender o item Boto Homem e o item Sedução que agora será avaliado e por isso os ensaios devem se intensificar. É muita responsabilidade, mas vou dar tudo de mim e vai dar tudo certo, tenho certeza que vamos emocionar o público”, garante.
Oliveira iniciou os preparativos do Tucuxi há dois meses. Ele mesmo desenha os figurinos dos itens a partir do enredo. “Assim que saiu toda a trajetória de cada item, comecei os desenhos e agora estou nos itens finais. Eu faço o rascunho a partir do que o Conselho de Arte passa do enredo e depois passo os desenhos para os integrantes do conselho aprovarem. A parte de costura não é comigo, essa parte fica com as costureiras, mas a ornamentação e os bordados para dar a cara de cada item é comigo”, esclarece o artista.
Boto Tucuxi 2013 (Foto: Zé Rodrigues/TV Tapajós)
Alex Oliveira sempre ajudou na confeccção das roupas do Boto Encantador e da Cabocla Borari (Foto: Zé Rodrigues/TV Tapajós)
A inspiração para os figurinos vem da história de cada personagem representado pelos itens. “Cada item já tem uma figura típica. Por exemplo, se a cabocla vai ser a Maria Moaçara, vamos pesquisar quem foi a Maria Moaçara e como ela se vestia. O Boto tem o fato dele aparecer todo vestido de branco, mas vamos buscar qual é a versão da lenda que é mais forte. A Rainha do Lago Verde tem o poder de virar a Yara ou até uma cobra grande, então levamos tudo isso em consideração. A parte artesanal, como o uso das cuias e da juta, é mais ligada a Rainha do Artesanato. A Rainha do Sairé já é algo mais luxuoso até porque ela tem ligação com os portugueses. Tem todo um estudo antes de fazer o desenho e começar a confecção. Além da história, o figurino tem que estar de comum acordo com a alegoria, não pode destoar”, enfatiza.