Texto para as questões 09 a 11Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!Grupos II - IIIpáç. 8Prova Tipo AE o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiavaem silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foientão que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.“Felicidade Clandestina”, Clarice LispectorQuestão u° 09Considere as afirmações abaixo, que estabelecem uma comparação entre o poema de Paulo Leminski e o trecho do conto de Clarice Lispector:I.Tanto o poema quanto o fragmento selecionado do conto são reflexões sobre o processo de amadurecimento de um indivíduo:II.Enquanto o poema de Leminski aborda o tema do amadurecimento com o uso do humor, o conto de Lispector escolhe um registro mais intimista para o mesmo tema:III.A última frase do trecho de "Felicidade clandestina” mostra que a personagem que ficou com a posse do livro não deu nenhum passo em direção à vida adulta.Prova Tipo Apáç. 9Grupos II - IIIAssinale a alternativa correta.a)Estão corretas as afirmativas I e II.b)Estão corretas as afirmativas I e III.c)Estão corretas as afirmativas II e III.d)Todas as afirmativas estão corretas.e)Nenhuma das afirmativas está correta.
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Olá,
I. Verdadeiro. O fragmento apresentado mostra um processo de amadurecimento vivenciado, funcionando como uma frase de transição para a vida adulta, tal como o abordado no poema. Ambos possuem essa semelhança.
II. Verdadeiro. Leminski aborda o tema de forma mais engraçada, usando esse carisma como forma de atrair o leitor. Já Clarice parte para uma maior intimidade com o público feminino, mergulhando o autor em suas particularidades.
III. Falso. A afirmação é falsa porque a personagem mostra claramente um processo de amadurecimento vivido.
É correta a Alternativa A.
Espero ter ajudado!
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