Terremoto
Rubem Braga
Houve pânico em algumas cidades do Norte desse Meio-Norte que fica ao sul das grandes províncias do Norte Grande, e que os chilenos chamam de Norte Chico. A terra tremeu com força e em vários pontos o mar arremeteu contra ela, avançando duzentos, trezentos metros, espatifando barcos contra o cais e bramindo com estrondo. O povo saiu para as praças e passou a noite ao relento; algumas construções desabaram, mas o único homem que morreu foi de susto.
Lamentamos esse morto e também os pobres pescadores que perderam seus barcos; mas qualquer enchente carioca dá mais prejuízo e vítimas. Mas louvemos o maremoto e o terremoto pelo que eles têm de fundamentalmente pânico, pela sua cega, dramática, purificadora intervenção na vida cotidiana, pela sua lição de humanidade e de fatalidade. Talvez seja bom que os homens não se sintam muito seguros sobre a terra, e que o proprietário de imóvel possa desconfiar de que ele não é tão imóvel assim; que há diabos loucos no fundo do chão e que eles podem promover terríveis anarquias. A natureza tem outros meios de advertência, como o raio e a tromba d’água; mas são demônios do céu que nos atacam. E o homem é fundamentalmente um bicho da terra, é na terra que ele se abriga e confia; apenas se move no céu e na água, na terra está seu porto e seu pouso. Ele pisa a terra com uma soberba inconsciente, seguro dela e de si mesmo; só o terremoto consegue lembrar-lhe de maneira fundamental sua condição precária e vã e o faz sentir-se sem base e sem abrigo.
Não sei que influência tem o terremoto sobre o caráter chileno; sei que muitos poderosos de nossa terra ficariam mais simpáticos e propensos à filosofia se o nosso bom Atlântico fizesse uma excursão até Barata Ribeiro e o velho Pão de Açúcar desmoralizasse um slogan de propaganda comercial dando alguns estremeções nervosos.
Houve um tempo em que Deus bastava para tornar humilde um poderoso; hoje seus pesadelos são apenas o comunismo, o enfarte e o câncer, mas ele já se acostumou a pensar que essas coisas só acontecem aos outros. O terremoto ameaça a terra com seus bens, e a própria vida; sua ocorrência só pode tornar as pessoas mais amantes da vida e mais conscientes de sua espantosa fragilidade. E isso faz bem.
Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 18.
O assunto da crônica são os terremotos. Formule, do modo mais sintético possível, o seu tema central.
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Os terremotos são assustadores, entretanto, são importantes para o indivíduo relembre a sua insignificância enquanto ser humano, e que é mortal, e que deve valorizar a vida que leva, bem como todas as alegrias das quais pode se animar.
Isso porque os terremotos ocorrem justamente onde o homem mais confia: na terra. O homem a modifica, a altera, a torna sempre diferente, entretanto, as ocorrências da natureza o lembram que a terra não é de suas posses.
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Resposta:
Resposta possível: A fragilidade do ser humano diante de um terremoto.
Explicação: plurall
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