Português, perguntado por nikaciat, 10 meses atrás

De que forma as imagens podem contribuir na construção da linguagem?


taismariadossantos10: De que forma as imagens podem contribuir na construção da linguagem?

Soluções para a tarefa

Respondido por bernardonogueiraff20
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A obra Leitura de imagens, de Lucia Santaella, propõe-se a ensinar a leitura de elementos não verbais que constroem o todo em imagens visuais. A obra dedica-se às imagens bidimensionais e fixas, ou seja, peculiarmente, referese às imagens que podem ser representadas em superfícies planas e impressas.

A publicação é organizada em cinco capítulos, cada um dedicado a um tipo de imagem: imagem na arte, na fotografia, nos livros ilustrados, na publicidade e no design. A progressão dos capítulos segue uma gradação e leva à identificação de traços que diferenciam os tipos de imagens. Embora as imagens possuam elementos comuns entre si, cada capítulo procura destacar categorias e tipologias de análise que predominam em cada estética. A leitura do todo da obra contribui para o estudo e a análise de enunciados em que textos e imagens se constituem solidariamente no todo. Esses enunciados (verbo-visuais, sincréticos ou multimodais, conforme cada teoria os designa) possuem complexidades técnicas e de sentidos que precisam ser lidas. Tal como a linguagem verbal, em que há sistemas e estratégias para realizar a leitura, na linguagem visual também há sistemas, técnicas e estratégias que ultrapassam o limite do visto, do óbvio.

Os capítulos normalmente se iniciam com explicações teóricas, etimológicas, históricas ou contextualizadoras acerca do tipo de imagem analisada; em seguida, são apresentadas categorias, tipologias, elementos caracterizadores da imagem em foco; na sequência, são destacados roteiros de leitura em que as categorias trabalhadas no capítulo são, coerentemente, exploradas (análise interpretativa); a seção "Como eu ensino" é o espaço em que a autora descreve um roteiro de ações que o professor deve realizar para fazer a leitura de imagens com seus alunos, tal como o capítulo sugere; e, por fim, os capítulos sistematizam uma listagem de referências para o professor pesquisar mais a respeito do conteúdo tratado. Dessa forma, o leitor pode dedicar-se ao estudo e ao trabalho com cada tipo de imagem especificamente, dado o caráter de "autonomia" entre os capítulos, embora a leitura da totalidade da obra seja essencial para aqueles que pretendem analisar linguagens em que imagens e textos estão amalgamados em estéticas distintas.

Na "Introdução", de modo precavido, a autora fala a respeito da necessidade de expandir o conceito de leitura, uma vez que ele não se restringe exclusivamente a elementos verbais. Cada vez mais, a escrita, unida à imagem, ao som, ao movimento, afasta a "visão purista de leitura restrita à decifração de letras" (p.11) do enunciado verbal, criando um novo tipo de leitor, chamado, por Santaella, de "leitor imersivo".

Ao explicar o que entende por leitura de imagem, a autora retoma a expressão americana visual literacy (letramento visual ou alfabetização visual). Em sua visão, para lermos uma imagem, "deveríamos ser capazes de desmembrá-la parte por parte, como se fosse um escrito, de lêla em voz alta, de decodificá-la, como se decifra um código, e de traduzi-la, do mesmo modo que traduzimos textos de uma língua para outra" (p.12). Embora, modestamente, a semioticista admita que essas possam ser metáforas equivocadas, há nelas um princípio unificador: o de transformar os efeitos de sentidos (ou interpretativos) percebidos em uma linguagem para outro tipo de linguagem. Isso nada mais é do que a possibilidade de construção e de busca de sentido em outras linguagens, ou seja, a leitura efetivamente realizada.

Para ler imagens ou alfabetizar-se visualmente, é preciso desenvolver a observação de aspectos e de traços constitutivos presentes no interior da imagem, sem extrapolar para pensamentos que nada têm a ver com ela. Assim como um texto, uma imagem pode produzir várias leituras, mas não qualquer leitura. Dessa forma, as questões-chave, base para a leitura de imagens, são:

– Como as imagens se apresentam?

– Como indicam o que querem indicar?

– Qual é o seu contexto de referência?

– Como e por que as imagens significam?

– Como as imagens são produzidas?

– Como elas pensam?

– Quais são seus modos específicos de representar a realidade que está fora dela?

– De que modo os elementos estéticos, postos a serviço da intensificação do efeito de sentido, provocam significados para o observador?

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