Ao olho mostra a integridade
de uma coisa num bloco, um ovo.
Numa só matéria, unitária,
maciçamente ovo, num todo.
Sem possuir um dentro e um fora,
tal como as pedras, sem miolo:
é só miolo: o dentro e o fora
integralmente no contorno.
No entanto, se ao olho se mostra
unânime em si mesmo, um ovo,
a mão que o sopesa descobre
que nele há algo suspeitoso:
que seu peso não é o das pedras,
inanimado, frio, goro;
que o seu é um peso morno, túmido,
um peso que é vivo e não morto.
II
O ovo revela o acabamento
a toda mão que o acaricia,
daquelas coisas torneadas
num trabalho de toda a vida.
E que se encontra também noutras
que entretanto mão não fabrica:
nos corais, nos seixos rolados
e em tantas coisas esculpidas
cujas formas simples são obra
de mil inacabáveis lixas
usadas por mãos escultoras
escondidas na água, na brisa.
No entretanto, o ovo, e apesar
de pura forma concluída,
não se situa no final:
está no ponto de partida.
III
A presença de qualquer ovo,
até se a mão não lhe faz nada,
possui o dom de provocar
certa reserva em qualquer sala.
O que é difícil de entender
se se pensa na forma clara
que tem um ovo, e na franqueza
de sua parede caiada.
A reserva que um ovo inspira
é de espécie bastante rara:
é a que se sente ante um revólver
e não se sente ante uma bala.
É a que se sente ante essas coisas
que conservando outras guardadas
ameaçam mais com disparar
do que com a coisa que disparam.
IV
Na manipulação de um ovo
um ritual sempre se observa:
há um jeito recolhido e meio
religioso em quem o leva.
Se pode pretender que o jeito
de quem qualquer ovo carrega
vem da atenção normal de quem
conduz uma coisa repleta.
O ovo porém está fechado
em sua arquitetura hermética
e quem o carrega, sabendo-o,
prossegue na atitude regra:
procede ainda da maneira
entre medrosa e circunspeta,
quase beata, de quem tem
nas mãos a chama de uma vela.
Esse poema é constituído de cinco partes, das quais transcrevemos duas. A estrutura de cada uma delas é idêntica: são dezesseis versos distribuídos em quatro estrofes. Logo cada estrofe tem quatro versos. Esse tipo de preocupação formal é bem diferente da que predominou entre os modernistas dá primeira fase. Explique essa afirmativa em seu caderno.
Soluções para a tarefa
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4
Para marcar o rompimento com as estruturas artísticas do passado, a primeira fase do modernismo é marcada pelo caráter anárquico e destruidor. Na literatura, os poetas utilizavam versos livres e brancos, em contraponto ao rigor formal do parnasianismo e arcadismo.
Respondido por
2
Só um JOÃO CABRAL DE MELLO NETO poderia escrever este poema descrevendo O OVO , através de 4 poemas com o mesmo título , e ele descreve o ovo através de antíteses e comparações .
O poema apresenta uma preocupação com a forma , usando para mostrar o OVO pela visão que passa , não pelo que o ovo é .
O ovo é o ponto de partida , para o surgimento de uma nova vida , chegando a perfeição da sua forma ,para conceber a beleza .
Este poema choca com o estilo pre -modernista de Cabral ,e ele mesmo diz:"
*****"EU acho que era a hora de voltar a forma rígida , mas não voltar ao Parnasianismo ou ao sonetismo ... Eu apenas deveria encontrar a sua fórmula rígida e uma maneira de segui-la " este poema foi " Fenomenológico ".
O poema apresenta uma preocupação com a forma , usando para mostrar o OVO pela visão que passa , não pelo que o ovo é .
O ovo é o ponto de partida , para o surgimento de uma nova vida , chegando a perfeição da sua forma ,para conceber a beleza .
Este poema choca com o estilo pre -modernista de Cabral ,e ele mesmo diz:"
*****"EU acho que era a hora de voltar a forma rígida , mas não voltar ao Parnasianismo ou ao sonetismo ... Eu apenas deveria encontrar a sua fórmula rígida e uma maneira de segui-la " este poema foi " Fenomenológico ".
meurilly:
Ótima resolução como sempre amiga ,suas respostas são maravilhosas.
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