uma carta para
os parlamentares sobre feminicidio ou maioridade penal
Soluções para a tarefa
Tem sido crescente e incontida a escalada disso que se chama feminicídio: um homem matar uma mullher, que dizia ou pensava “ser sua”, quase sempre.
Circula notícia que, nos últimos dois dias, três mulheres foram mortas pelos “seus homens”, em São Paulo. Quase uma por dia. Uma por aí, outra no Jardim Ângela, outra em Perdizes. A dor não tem endereço, portanto, e agora, mais do que nunca, sai no jornal, na rede, no face, no whats.
Há quem diga que sempre foi assim, e o que mudou foi a divulgação. E nessa estatística cruel vamos computar a dor em silêncio, não anunciada, não revelada, que existe por esse Brasil afora. E esse triste índice, certamente, será bem maior. Temos lei que agora prevê pena maior para quem mata uma mulher, porque ela é mulher, por “razões do sexo feminino” (artigo 121, parágrafo 2o, do Código Penal).
Maria foi estrangulada porque José pensava estar sendo traído. Rosa foi esfaqueada (quase despedaçada), com o filho por perto como testemunha, porque se separara de Antonio Cravo, já que o amor tinha se acabado. Joana vinha sofrendo muito com João, aguentando tudo, até o dia em que partiu, com um tiro inesperado, durante um sono (sonhava Joana?), e foi acompanhada por um corpo inerte de um João suicida e certamente infeliz.
Vozes tantas se somam e se dividem, após tragédias, e querem respostas, porquês, punição. Uns dizem que Maria bem mereceu, afinal, traição acaba assim mesmo, em morte… Outros dizem que o Cravo nem brigava tanto com a Rosa e que era bom marido, trabalhador, nem parecia violento… João andava atordoado, mas era bom pai… E se matou em seguida, “coitado”, então “não foi” feminicídio…
E vamos, assim, em tempos ditos líquidos e porosos, absorvendo histórias de outros, alguns perto de nós, outros distantes. Ficamos algo indignados, algo assustados para depois, esquecermos.
Mas não se pode esquecer, nem buscar frágeis justificativas!