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Desigualdade:
Alimentação pesa três vezes mais no orçamento dos pobres, diz IBGE
No Brasil, quem ganha até dois pisos gasta 22% da renda com comida, já quem recebe mais de R$ 23,8 mil gasta 7,6%
Juca Guimarães
Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 07 de Outubro de 2019 às 18:13
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Segundo André Martins, pesquisador do IBGE, ao perder a renda, o trabalhador mais pobre acaba reduzindo o gasto com alimentação
Segundo André Martins, pesquisador do IBGE, ao perder a renda, o trabalhador mais pobre acaba reduzindo o gasto com alimentação - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Estudo publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) na última sexta-feira (4) compilou dados que permitem constatar a crescente desigualdade social no Brasil por diversos ângulos
Para se alimentar, por exemplo, os brasileiros pertencentes à camada de renda mais pobre comprometem, proporcionalmente, três vezes mais do total do seu orçamento mensal do que a população mais rica, formada por famílias de renda superior a R$ 23,8 mil.
De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, para as famílias que ganham até dois salários mínimos -- R$ 1.996 --, a comida representa 22% do total de despesas do mês. Nos núcleos familiares que vivem com mais de R$ 23.850 mensais, o item alimentação representa 7,6% das despesas. Ou seja, o peso da comida é três vezes maior para os pobres comparando com os ricos.
O auxiliar de serviços gerais Francisco José da Silva Santos, de 39 anos, está desempregado há três anos e vive de pequenas atividades temporárias e bicos informais. Nem todos os meses consegue juntar uma renda que supere o salário mínimo. Enquanto não consegue uma renda estável, ele vive em um abrigo, na região Oeste da capital, e procura emprego diariamente. Para ele a despesa no supermercado é um peso no orçamento e nas chances de um futuro melhor.
“A pessoa vai comprar alguma coisa e chega lá [no supermercado] e já aumentou o preço. E daí tem que tirar mais e cada vez vai gastando mais. Nesse sentido, o dinheiro vai perdendo o valor”, conta Santos.
O pesquisador André Martins, do IBGE, um dos responsáveis pelo estudo dos orçamentos, comentou que, em uma eventual demissão ou diminuição de renda, o trabalhador mais pobre acaba reduzindo o gasto com a alimentação. “Ele tem que se ajustar e onde dá para cortar, um pouco é na comida. Ele não pode tirar do transporte, por exemplo, porque vai precisar sair para procurar emprego”, disse.
Segundo o técnico Ilmar Ferreira, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a situação política do país não caminha para um cenário melhor.
“As perspectivas não são exatamente positivas, nessa direção, já se mexeu na política do salário mínimo, na política da Previdência Social, na questão salarial, a precarização dos empregos, de forma que isso tende a se agravar, essa extrema desigualdade”, opina.
O levantamento mensal feito pelo próprio Dieese sobre o custo de vida da classe trabalhadora no Brasil apontou que, em setembro, o valor ideal do salário mínimo para sustentar uma família de quatro pessoas, dois adultos e duas crianças, era de R$ 3.980,82.
A pesquisa do IBGE, por outro lado, mostra que esse rendimento está longe da realidade de pelo menos 12,8 milhões de famílias brasileiras, que vivem com um orçamento mensal entre R$ 1.908 e R$ 2.862
Ainda segundo o IBGE 21,8 milhões de famílias têm rendimento entre R$ 2.862 e R$ 5.724; 9,6 milhões de famílias têm rendimento entre R$ 5.724 e R$ 9.540; 4,4 milhões de famílias têm rendimento entre R$ 9.540 e R$ 14 mil; 2,7 milhões de famílias têm rendimento de R$ 14 mil até R$ 23 mil; e 1,8 milhão de famílias têm um rendimento superior a R$ 23 mil.
Em outras palavras, cerca de 20% de toda a renda recebida mensalmente no país fica com 2,7% das famílias, cuja renda supera os 25 salários mínimos. Já na camada mais pobre da população, aposentadorias e políticas públicas, como o Bolsa Família, representam 25% da renda.
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