Resumo da obra a noiva judia do barraco
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Resposta:
Já vi este quadro maravilhoso tantas vezes que perdi a conta, e não me canso de voltar a vê-lo. Vê-lo, vê-lo, como se pudesse esperar que ele me respondesse a tudo o que me ocorre perguntar-lhe. Ou vê-lo só mesmo para descansar a alma.
Primeiro que tudo - sem isso este quadro não me atrairia como a luz -, porque é uma obra-prima. Não sei se o amor conjugal foi alguma vez tratado de uma maneira tão bela, tão profunda, na arte ocidental. Julgo que sei: não foi. E, depois, porque me diz imenso, por tudo o que simboliza na história.
Tendo sido pintado por volta de 1666 ou 1667, só em 1825 passou a ser conhecido pelo nome hoje consagrado - A noiva judia. Discutiu-se bastante sobre quem ele representa, se o nome é bem aplicado, e até isso tem que se lhe diga, tem mesmo muito que se lhe diga, mas já lá irei.
Que eu saiba, não há hoje dúvidas de que o quadro representa um judeu e uma judia, acabados de se casar, ou em vias de o fazer. Rembrandt viveu muitos anos em Jodenbreestaat, Grande Rua Judaica, a principal artéria do bairro judaico de Amesterdão. Era amigo dos seus vizinhos, pintou-os e pintou para eles, muitos deles prósperos amantes das belas-artes. Com eles muito aprendeu sobre a exegese judaica, e de outra forma não é possível explicar determinados elementos «narrativos» que figuram em alguns dos seus quadros dedicados a temas da história bíblica. Gravou o rosto de Menasseh ben Israel, nascido Manuel Dias Soeiro, em 1604, na Madeira, e de outra forma não conheceríamos hoje tão bem os traços do mais influente rabino do século XVII.
É bastante provável que o noivo deste quadro seja Miguel de Barrios, alias Daniel Ha-Levi de Barrios, um dos mais célebres poetas de Amesterdão, nascido em Montilla, Andaluzia, c. 1625, filho do português Simon de Barrios. Ela, a noiva, será a segunda mulher de Miguel, D. Abigail de Pina, filha de um rabino proveniente de Marrocos.
O que primeiro intriga n'A noiva judia é a ausência de qualquer marca identitária de cariz religioso. E, porém, sobre a pública identidade religiosa dos noivos, a serem quem se julga que foram, não há quaisquer dúvidas. Rembrandt - e logo Rembrandt... - foi o primeiro pintor ocidental a abdicar totalmente de quaisquer «atributos» religiosos na figuração dos «seus» judeus. Seguramente porque os judeus da Comunidade Portuguesa de Amesterdão eram para ele uma presença de tal modo integrada no seu quotidiano e de tal modo exteriormente indiferenciada do resto da população que figurá-los de outro modo seria trair a realidade. Nisso, os judeus portugueses eram únicos por esse tempo.
Depois, não sei bem como dizer o quanto este quadro me emociona. Tudo na atitude dos noivos é uma espécie de calma plena. Eles não olham para nós. Com os rostos a três quartos, a direcção dos seus olhares cruza-se e fixa-se algures, num lugar que não sabemos decifrar. E não nos pertence saber qual é. A situação é simulatneamente de extrema intimidade e apresentação. Como no dia do casamento.
O braço esquerdo do noivo envolve delicadamente a noiva, protegendo-a. O braço direito pousa sobre o peito da amada, inesperadamente, num quadro onde tudo é pudor, e ela agradece o gesto, pousando a sua mão esquerda sobre a dele. A mão direita da noiva está sobre o seu regaço, envolvendo uma jóia, parece-me, que pende de um colar posto à cintura. O absolutamente fabuloso nesta figuração do amor conjugal é a forma como Rembrandt nela representa explicitamente tudo o que esse amor promete, inclusive a iminência da posse nupcial - «e serão uma só carne» (Gen. 2:24) -, sem que haja nessa representação traço da perda de graça que viria a acompanhar, mais tarde, toda a sugestão de sensualidade: na pintura, na fotografia ou no cinema.
Que sejam judeus, e portugueses, os habitantes desta encenação sublime de Rembrandt, é algo que também me toca, claro.
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