possíveis soluções para o conflito na Ucrânia
Soluções para a tarefa
A atual crise na Ucrânia teve início oficial em fevereiro de 2014, quando manifestantes invadiram a Praça Maidan na capital Kiev. Eles protestavam contra a decisão do então presidente Viktor Yanukovych de não assinar um acordo com a União Europeia (UE) no final de 2013. Como resultado, Yanuvych deixou a presidência e fugiu de Kiev um ano antes do término de seu mandato. Com o vácuo de poder criado pela situação, a Rússia passou a interferir mais ativamente no país. O posicionamento russo (incluindo a anexação da região da Crimeia) desencadeou um dos mais sérios conflitos da atualidade no leste europeu. Iniciada há mais de um ano – e aparentemente longe de um fim -, a guerra levanta questões sobre as reais causas das tensões, as implicações na dinâmica de poder da região e possíveis caminhos a serem trilhados pela Ucrânia em um futuro próximo.
Em novembro de 2013, a Ucrânia encontrava-se à beira de uma forte crise econômica e o presidente Yanukovych enfrentava um dilema: firmar um acordo com a UE ou aceitar um empréstimo de cerca de US$15 bilhões da Rússia. A aproximação com a Rússia sinalizaria uma movimentação para formar a chamada União Eurásia, integrada por Rússia, Cazaquistão e Bielorrússia. O acordo com a UE, por sua vez, extrapolava o âmbito comercial, partindo do pressuposto de que a Ucrânia aderiria também a princípios e valores políticos do bloco europeu, segundo o professor Lubomyr Hajda, do Instituto Ucraniano da Universidade de Harvard. O então presidente, cujas alianças políticas eram pró-Rússia, não aderiu ao acordo com a UE, acirrando divisões pré-existentes dentro do país.
Para entender melhor o porquê da recusa de Yanukovych, é preciso olhar para a história do país, desde sua separação da União Soviética (URSS) em 1991. Pode-se afirmar que a opinião pública na Ucrânia é extremamente dividida em relação a alianças políticas e econômicas. Fatores que influenciam essas divisões são as diferentes etnias, idiomas, religiões, identidades históricas e aspectos culturais.
O oeste do país juntou-se ao que hoje é a Ucrânia em 1940, após dois séculos sob domínio do Império Austro-Húngaro e, por um período, da Polônia. Nesta região, o idioma predominante é o ucraniano, a religião é católica grega e, devido a forte influência do ocidente, a população é majoritariamente pró-integração com a União Europeia. Por outro lado, as regiões leste e sul integraram o país imediatamente após a guerra civil Russa, em 1920. Nestas regiões o principal idioma é o russo e as inclinações políticas da população estão aliadas às da Rússia.
A Ucrânia passou a existir de fato como Estado após 1991, quando a população votou em um plebiscito que tornou o país independente do bloco soviético. Houve também, naquela, ocasião, eleições que escolheram como presidente Leonid Kravchuk, ex-parlamentar comunista. Após a independência, houve uma série de crises políticas e econômicas, cujos principais motivos foram as divisões internas, como afirma Eugene B. Rumer, Diretor do Programa de Russia e Eurasia do Carnegie Endowment for International Peace.
Rumer argumenta que a antiga elite oligárquica dominante na política desde a época da URSS não foi removida com a independência, tendo sido apenas substituída majoritariamente por uma nova geração que, apesar de ter assumido a bandeira de nacionalista, ainda defendia os interesses soviéticos. Segundo o autor, os líderes do Rukh – um dos mais importantes movimentos nacionalistas do país – não buscaram criar um partido de oposição ao do então presidente Kravchuk. Como resultado, as antigas elites permaneceram no poder e reformas necessárias não ocorreram, levando à forte estagnação da economia do país. A instabilidade econômica e a consequente crise agravaram ainda mais as disputas entre as regiões.
Observando a história e a formação do país, é possível afirmar que a disputa entre as regiões faz parte de um questionamento muito maior sobre o que é de fato a Ucrânia. Rumer argumenta que, sem uma história mais densa de soberania, identidade nacional e noção de Estado, ambas as regiões leste e oeste possuem legitimidade para tentar definir a agenda doméstica e externa do país.