Pergunta 1
1. Há professores e professoras marcantes, não só porque ensinaram bem as matérias escolares a seus estudantes, mas porque se tornaram objetos de afeto e referências de conduta. Em “Neide Candolina”, música de seu álbum Circuladô de Fulô (1991), Caetano Veloso criou uma personagem que funde duas pessoas admiradas, sendo que uma delas foi sua professora.
Leia os dois trechos citados a seguir, ouça a música e leia a letra da canção. Em seguida, faça o exercício. Ele não será postado no AVA.
Escreveu Caetano Veloso a respeito da canção:
Neide é uma mistura de duas pessoas pretas da Bahia. Uma é Neide, minha amiga, que hoje em dia tem um restaurante no Rio de Janeiro chamado Iorubá. Eu a conheci quando ela tinha dezoito anos. Quem me apresentou foi um amigo, Antonio Risério, que é poeta e ensaísta. Ele disse: “você tem que conhecer a Neide e o pessoal dela, é uma gente maravilhosa, vamos ao Zanzibar! Eu disse a ela que a gente ia descer lá hoje”. Então, descemos onde ela morava, embaixo do restaurante que pertencia à família dela. E, quando chegamos, ela estava nua em pelo! Linda! Perfeitamente linda! Estava ouvindo um disco do Djavan. Ela me falou: “Você gosta do Djavan? Você quer um pouquinho de Coca-Cola?”. Assim, totalmente social. [...] A outra pessoa que entrou na composição de Neide Candolina foi minha professora de português, a mais importante de todas, Dona Candolina. Então eu misturei o nome das duas e criei uma personagem negra, baiana, moderna. O mais interessante é que aparece a palavra “brown” aqui, que é uma palavra que, na Bahia, era usada de modo pejorativo. Nos anos 70, 80, dizia-se: “está muito brown isso aqui; a praia está muito brown”, porque tinha muito preto, era muito baixo nível, uma coisa cafona e pobre. Os pretos se chamavam de “brown” por causa de James Brown. Por isso Carlinhos Brown é Carlinhos Brown, Mano Brown é Mano Brown; tudo vem de James Brown. E como os pretos se chamavam de “brown” uns aos outros, a gíria pegou e a classe média “branca” começou a usar a palavra “brown” como quem diz “cafona” na Itália. [VELOSO, Caetano. Sobre as letras. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 50-52]
Segundo o site Música em Prosa,
Candolina Rosa de Carvalho Cerqueira, professora primária aos 18 anos, pela Escola Normal da Bahia, graduou-se em Línguas neolatinas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UFBA, em 1949. [...] Foi mestra de Língua Portuguesa para várias gerações de baianos, em tradicionais colégios de Salvador – Colégio Central da Bahia, Colégio Severino Vieira, Colégio Marista – e permaneceu na memória de seus alunos. Morreu em 1973 [...]. Ela nomeia a escola da rede estadual de ensino da Bahia, no bairro de Pau Miúdo.
Preta chique, essa preta é bem linda
Essa preta é muito fina
Essa preta é toda glória do brau
Preta preta, essa preta é correta
Essa preta é mesmo preta
É democrata social racial
Ela é modal
Tem um Gol que ela mesma comprou
Com o dinheiro que juntou
Ensinando português no Central
Salvador, isso é só Salvador
Sua suja Salvador
E ela nunca furou um sinal
Isso é legal
E eu e eu e eu sem ela
Nobreza brau, nobreza brau
Preta sã, ela é filha de Iansã
Ela é muito cidadã
Ela tem trabalho e tem carnaval
Elegante, ela é muito elegante
Ela é superelegante
Roupa Europa e pixaim Senegal
Transcendental
Liberdade, bairro da Liberdade
Palavra da liberdade
Ela é Neide Candolina total
E a cidade, a ba¡a da cidade
A porcaria da cidade
Tem que reverter o quadro atual
Pra lhe ser igual
E eu e eu e eu sem ela
Nobreza brau, nobreza brau
Exercício
1. Destaque os versos em que o eu-lírico (ou seja, a voz que enuncia o poema) dá adjetivos à personagem e responda: quais são as qualidades e os exemplos de cidadania a ela associados?
2. Por que Caetano Veloso criou o refrão reunindo “nobreza” e “brown”, palavras de significados inicialmente contraditórios?
3. Você deve ter um professor ou uma professora admirável. Quais são as qualidades dessa pessoa que você mais valoriza, e que você carrega consigo?
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Resposta:
1 - O fato dela ser trabalhadora, ter conseguido comprar seu próprio carro e respeitar as leis (nunca furou um sinal) são sinais de cidadania e qualidades a ela aplicadas.
2 - Justamente pela contradição. A nobreza no Brasil geralmente não é associada ao "brown". Por tratar-se de uma mulher trabalhadora e cidadã ela é referida como nobre, afinal, são essas as qualidades que devem ser consideradas e não a cor da sua pele ou seu cabelo.
3 - Resposta pessoal
Explicação:
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