O CHA, OS FANTASMAS, OS VENTOS ENCANADOS... Nasci no tempo dos ventos encanados, quando, para evitar compromissos, a "gente bem" dizia estar com enxaqueca, palavra horrível, mas desculpa distinta. Ter enxaqueca não era para todos, mas só para essas senhoras que tomavam chá com o dedo mindinho espichado. Quando eu via aquilo, ficava a pensar sozinho comigo (menino, naqueles tempos, não dava opinião) por que é que elas não usavam, para cúmulo da elegância, um laçarote azul no dedo... Também se falava misteriosamente em "moléstias de senhoras" nos anúncios farmacêuticos que eu lia. Era decerto uma coisa privativa das senhoras, como as enxaquecas, pois as criadas, essas, não tinham tempo para isso. Mas, em compensação, me assustavam deliciosamente com histórias de assombrações. Nunca me apareceu nenhuma. Pelo visto, era isso: nunca consegui comunicar-me com este nem com o outro mundo. A não ser através d’O tico-tico e da poesia de Camões, do qual até hoje me assombra este verso único: "Que o menor mal de tudo seja a morte!" Pois a verdadeira poesia sempre foi um meio de comunicação com este e com o outro mundo. Considerando-se que a afirmação "Ter enxaqueca não era para todos" (2.o parágrafo) não pode ser verdadeira, conclui-se que ela é feita para expressar outro sentido, menos literal. O sentido expresso pela afirmação, no texto, é a) metonímico. b) hiperbólico. c) metafórico. d) irônico. e) pleonástico.
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O sentido expresso pela afirmação, no texto, é:
d) irônico.
> Quando o poeta diz que "Ter enxaqueca não era para todos", ele faz uma ironia, pois está sugerindo que ter enxaqueca é coisa de gente rica, é um luxo das pessoas ricas.
Os ricos poderiam ficar sem fazer nada, descansando, por causa da enxaqueca, mas os pobres não podem se dar a esse "luxo".
No sentido literal, sim, todas as pessoas podem ter enxaqueca. Mas no sentido usado no texto, menos literal, percebe-se o uso da ironia.
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