Lá pelo início dos anos 90, foi alardeado o fim dos grandes choques ideológicos. Com a derrocada da União Soviética, cristalizou-se um quase consenso apontando o capitalismo como imbatível e a inutilidade de lutar por sistemas alternativos. Em livro publicado em 1992, o cientista político Francis Fukuyama chegou até mesmo a profetizar o “fim da história”. A seu ver, o fracasso do comunismo sepultaria os grandes conflitos ideológicos e culminaria com a hegemonia mundial das leis de livre mercado.
Porém, naquele momento não foi previsto o recrudescimento de outro tipo de divergência, agora entre os próprios integrantes do triunfante bloco adepto do capitalismo. Tendo como referência o papel do Estado em uma sociedade liberal democrática, essa divergência assumiu elevado grau de virulência e será tema de crescente proeminência no cenário internacional.
Nos EUA, constata-se radicalização inédita no debate sobre a presença do governo nas diversas áreas da vida nacional, tais como: seguridade social, composição dos investimentos, regulamentação de setores produtivos, preservação ambiental, severa iniquidade na distribuição de renda, prestação de serviços públicos, estabelecimento de padrões educacionais, porte de armas e até aborto.
No Brasil, apesar do limitado espaço eleitoral da direita ortodoxa, seus porta-vozes manifestam de forma incisiva a discordância do que classificam de intromissão governamental no comportamento das pessoas e da sociedade. Por outro lado, tanto aqui quanto, por exemplo, na Argentina e na Venezuela, parte dos devotos de um Estado atuante usa argumentos obtusos, arcaicos e demagógicos.
Ironicamente, a experiência histórica demonstra que os maiores algozes do capitalismo são os seus defensores extremados, alérgicos à influência governamental nos destinos de uma nação, inclusive sob um cenário democrático. Eles recusam-se a admitir que expressiva parcela dos desafios presentes em vários cantos do mundo não será vencida apenas através de iniciativas individuais espontâneas.
A evolução positiva do sistema capitalista requer o engajamento democrático da sociedade, via atuação governamental, no sentido de desobstruir entraves ao desenvolvimento econômico e social. Isso não significa resvalar para intervencionismo, estatização da economia, crescimento abusivo da carga tributária ou agigantamento da burocracia oficial, mas sim usar com eficácia os instrumentos de políticas públicas para atingir objetivos inacessíveis às leis de oferta e procura. E assumindo como pontos de referência o incentivo à competitividade, à inovação, ao empreendedorismo privado e à equidade social.
Não é coincidência o fato de os mais fervorosos pregadores do governo mínimo se encontrarem entre os grupos mais bem posicionados para usufruir os benefícios proporcionados pelo mercado. Eles ignoram aqueles com escassas oportunidades de se situarem de forma satisfatória nessa arena inerente ao capitalismo.
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