Português, perguntado por stefanieiasmin70, 9 meses atrás

Há incertezas na mudança O filósofo Bertrand Russel, ao afirmar que “a mudança é indubitável, mas o progresso é uma questão controversa”, nos apresenta uma certeza e uma dúvida. A certeza se refere ao caráter dinâmico do universo no qual vivemos e a dúvida nos atinge quando questionamos se tal mudança será benéfica ou não. Vivemos num universo dinâmico e as mudanças climáticas, junto aos ciclos dos movimentos aparentes dos astros, criando dias e noites, talvez sejam as provas mais evidentes disso. É interessante perceber como esse dinamismo permeia a vida do homem, não só individualmente, mas também socialmente. Impérios são criados, conhecem seu apogeu e depois são destruídos, cedendo lugar a outros. As formas de vida também sofrem alterações através do tempo (teoria da evolução das espécies, de Darwin) e até mesmo os minerais, sujeitos à erosão e à ação oxidante da nossa atmosfera, se transforma em outras substâncias. Correto está o filósofo, ao afirmar que “a mudança é indubitável”. Porém a questão do progresso, ou seja, uma mudança positiva, deve ser analisada com mais cuidado. A partir da definição de progresso como mudança positiva, podemos nos perguntar “positiva sob qual ponto de vista?”. Manuel Bonfim, em seu texto “A América Latina: males de origem”, associa o progresso social a uma sociedade continuamente mais justa. Por outro lado, a revolução industrial, período de significativo progresso tecnológico, condenou mulheres e crianças a jornadas de trabalho desumanas, em troca de salários miseráveis. O progresso, nesse caso, representa uma mudança positiva apenas para o capitalista. Passando da sociologia para a ecologia, podemos perceber, pelo texto “Bad Evolution” de Alamma Mitchell, como o equilíbrio entre as espécies de uma lagoa pode ser alterado em função do aumento da temperatura. Entretanto, um ligeiro aumento da temperatura média do planeta pode reduzir o rigor do inverno em países “frios”, aumentando a capacidade de produção agrícola desses países. Nesse caso o aumento da temperatura média do planeta deve ser considerado uma mudança positiva ou negativa? Deve ficar claro que, muitas vezes, o ser humano não tem condições de avaliar o impacto causado por suas atividades. Sabemos que a instalação de uma usina termoelétrica provoca o aumento da acidez nas chuvas da região onde se encontra, mas qual o impacto sobre o meio ambiente devido a todas as outras atividades humanas? A aplicação de um determinado projeto social pode melhorar a vida de algumas pessoas em detrimento de outras. Como avaliar se isso é benéfico ou maléfico? As palavras de Bertrand Russel, publicadas em 1959, continuam atuais e talvez nunca percam a atualidade. Talvez a humanidade deva continuar mudando sempre, sem nunca saber qual o próximo passo. Talvez estejamos condenados a continuar mudando, sem saber se caminhamos em direção à perpetuação da vida ou ao seu extermínio. Talvez Herbert Spencer esteja certo... e o progresso seja apenas parte da natureza humana. (Aldebaran L. do Prado Júnior. In: Vestibular Unicamp – Redações 2003. Campinas: Editora da Unicamp, 2003, p.51


1 O texto dissertativo escolar geralmente apresenta uma estrutura organizada em três partes: a
introdução, na qual é apresentada a ideia principal ou tese, o desenvolvimento, que fundamenta ou
desenvolve a ideia principal, e a conclusão.
a) Identifique os parágrafos que constituem essas partes.


b) Qual é a ideia principal, ou tese, defendida pelo autor na introdução?

2. O desenvolvimento é construído em quatro parágrafos.
a) Que aspecto da ideia principal é desenvolvido no primeiro desses quatro parágrafos?

b) Que aspecto é abordado nos outros três parágrafos?

3. Observe a conclusão do texto. Trata-se de uma conclusão do tipo síntese ou do tipo proposta?

4. Observe o título do texto. Você o considera adequado? Por quê?



5 Observe a linguagem do texto:
a) Que variedade linguística foi empregada (linguagem coloquial ou norma-padrão?

b) Que pessoa gramatical dos verbos e pronomes predomina?

c) A linguagem tende à pessoalidade ou à impessoalidade? Tende à objetividade ou à subjetividade?

Soluções para a tarefa

Respondido por geraldobotao
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Resposta:

1. a) INTRODUÇÃO: 1º Parágrafo

      DESENVOLVIMENTO: Do 2º ao 5º parágrafos

      CONCLUSÃO: 6º e 7º parágrafos

   

   b) Na introdução (1º parágrafo), o autor faz a apresentação geral do tema e aponta os dois aspectos relevantes a serem analisados: em primeiro lugar, os elementos de convicção e certeza sobre a mudança e, em segundo plano, as dúvidas ou incertezas derivadas desse processo.  

2. a) O autor começa, efetivamente, a desenvolver o tema no 2º parágrafo. Neste segmento, discorre e relaciona vários processos naturais que servem de referências exemplificativas do caráter dinâmico da Terra e do universo, bem como os reflexos de tais transformações na vida humana.

    b) Do 3º ao 5º parágrafos, o autor do texto passa a desenvolver e fundamentar as ideias-chave anunciadas na introdução: até que ponto as mudanças são, de fato, benéficas e representam progresso?

     Nessa linha, busca o autor exemplos na História e nas outras ciências para a argumentação. Ao citar a Revolução Industrial, deixa clara a ideia de relatividade do conceito de progresso, pois, verificadas todas as suas faces, a depender do ponto de vista do analista, um mesmo processo de mudança pode ser progresso para uns e prejuízo para outros.   Ou seja, a mudança afeta de modo desigual as várias esferas sociais.

3. Conclusão do tipo síntese. Nas palavras finais, o autor sintetiza as ideias centrais do texto e, repetindo três vezes a palavra "talvez" no último parágrafo, ratifica a ideia defendida de incerteza na mudança.  

4. Sim. Porque retrata bem a realidade vivida pela humanidade ao longo dos séculos nos aspectos socioeconômicos e históricos.

5. a) Norma-padrão (Por defender ideias de cunho científico-filosófico e histórico, a variedade padrão foi a mais adequada).

   b) Primeira pessoa do plural (Sabemos que...; Talvez estejamos condenados, etc.)

   c) Tende à impessoalidade e objetividade. O autor se conduz como observador da natureza e do universo, embasando seus argumentos em elementos objetivos da ciência.  

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