Sociologia, perguntado por anaclarasoaressantos, 5 meses atrás

explique o discurso racista do século XIX e XX?​

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Respondido por luizfernandoro63
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Resposta:

Foi no século XIX que o conceito de raça2 se difundiu no mundo ocidental, recebendo grande influência no Brasil das ideias do Conde de Gobineau3, que postulava a existência de diferentes linhagens para as raças humanas, justificando, dessa forma, a classificação e o tratamento diferenciado para aquelas consideradas inferiores.

Outro estrangeiro que passou por terras brasileiras foi o suíço Louis Agassiz, que saiu de Nova York e passou por Rio de Janeiro, Minas Gerais, Nordeste do Brasil e Amazônia para estudar, dentre outros assuntos, os efeitos da mestiçagem no nosso país. Sua tese era a de que não deveria haver cruzamentos entre brancos, negros e índios. É dele o seguinte trecho:

Aqueles que põem em dúvida os efeitos perniciosos da mistura de raças e são levados, por uma falsa filantropia, a romper todas as barreiras colocadas entre elas, deveriam vir ao Brasil. Não lhes seria possível negar a decadência resultante dos cruzamentos que, neste país, se dão mais largamente do que em qualquer outro. Veriam que essa mistura apaga as melhores qualidades quer do branco, quer do negro, quer do índio, e produz um tipo mestiço indescritível cuja energia física e mental se enfraqueceu. Numa época em que o novo estatuto social do negro é, para os nossos homens de Estado, uma questão vital, seria bom aproveitar a experiência de um país onde a escravidão existe, é verdade, mas onde há mais liberalismo para com o negro do que nunca houve nos Estados Unidos. Que essa dupla lição não fique perdida! Concedamos ao negro todas as vantagens da educação; demos-lhe todas as possibilidades de sucesso que a cultura intelectual e moral dá ao homem que dela sabe aproveitar; mas respeitemos as leis da natureza e, em nossas relações com os negros, mantenhamos, no seu máximo rigor, a integridade do seu tipo original e a pureza do nosso (AGASSIZ, 2000, p. 282).

As teorias sobre raça pululavam nas cabeças dos nossos intelectuais entre fins do século XIX e começo do XX. Gilberto Freyre, no prefácio de sua obra mais famosa, Casa-grande e senzala, revela que também se preocupou com os efeitos da miscigenação brasileira e que possuíra uma visão com fundamento no conceito de raça, sendo posteriormente alterada por influência dos estudos realizados com o antropólogo teuto-americano Franz Boas, que fundamentava as diferenças entre os povos com base na cultura e não na raça. Vale a pena transcrever as impressões de Freyre acerca de marinheiros brasileiros que desembarcavam de um navio em Nova York:

Vi uma vez, depois de mais de três anos maciços de ausência do Brasil, um bando de marinheiros nacionais – mulatos e cafuzos – descendo não me lembro se do São Paulo ou do Minas pela neve mole de Brooklyn. Deram-me a impressão de caricaturas de homens. E veio-me à lembrança a frase de um livro de viajante americano que acabara de ler sobre o Brasil: “the fearfully mongrel aspect of most of the population”. A miscigenação resultava naquilo. Faltou-me quem me dissesse então, como em 1929 Roquette-Pinto aos arianistas do Congresso Brasileiro de Eugenia, que não eram simplesmente mulatos ou cafuzos os indivíduos que eu julgava representarem o Brasil, mas cafuzos e mulatos doentes (FREYRE, 2006, p. 31).


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