Elabore um argumento que você usaria para defender a sua posição. Registre-o. Lembre-se: a pró¬pria matéria destaca que há diferentes posições sobre essa questão. Lugar de fala, esse incompreendido
Juarez Silva Jr
Nos últimos anos, nas discussões e textos dos ativismos e principalmente no neoativismo de prati¬camente todos os recortes dos movimentos sociais, o termo é extremamente utilizado, e não raro de forma equivocada.
Mas afinal o que é “lugar de fala”?
A origem do termo é, nos textos mais populares e atuais, reconhecida como proveniente do feminismo dos anos 80. Teria aparecido pela primeira vez no artigo “O problema de falar pelos outros”, de Linda Alcoff, filósofa panamenha, e em texto da professora indiana Gayatri Spivak, o ensaio “Pode o subal¬terno falar?”. Basicamente surge como uma questão de “voz de minorias” e autorrepresentatividade.
Obviamente o conceito transcendeu o escopo original e ganhou análises e compreensões diferencia¬das, além de usos práticos e intenções de uso.
O fato de, em essência, o conceito se ligar a autorrepresentação e protagonismo nas lutas ativistas provoca um entendimento generalizado de que o lugar citado na expressão seria um “espaço” de atuação, pautamento e discurso aonde determinado grupo dominaria e protagonizaria. A crítica mais comum a essa visão é que, para muitos, isso significa uma exclusividade identitária de atuação e voz no respectivo espaço, o que cerceia a participação e mesmo manifestação de outros atores que não pertençam ao recorte. Além de antidemocrático, faz com que a luta siga “intestina” e pouco eficaz, não envolvendo quem de fato precisa ser atingido, afastando aliados externos e empobrecendo o debate.
Na lógica acima, apenas mulheres poderiam se manifestar sobre feminismo e machismo, apenas ne¬gros e indígenas poderiam se manifestar sobre racismo, apenas LGBTs poderiam se manifestar sobre homofobia e transfobia, sendo que a última seria exclusividade de transgêneros […]
Nesse paradigma o que autoriza a fala é o pertencimento e VIVÊNCIA, exigindo “silêncio” de quem não as possui.
Há, porém, outros entendimentos. Por exemplo, o de que lugar de fala se aplica a qualquer situação para além do ativismo, na qual em debate, um discurso ou posicionamento está vinculado não apenas às vivências pessoais, mas a uma série de fatores outros. Aqui lugar de fala é apenas A PARTIR DE ONDE se fala, é uma posição rankeada de credibilidade e autoridade aposta ao discurso, não um au¬torizador ou inibidor de manifestação. Essa é a minha linha de pensamento.
A “autoridade” no lugar de fala não é inata, não é apenas por simples pertença, não é exclusivamente por “vivência” e não é exclusivamente por estudo formal. Ela é COMPOSTA, ou seja, cada indivíduo é qualificado a partir do conjunto de informações, pertença, vivências e estudos que possui. Sendo as¬sim, lugar de fala não se confunde com protagonismo, muito menos pode ser “roubado”, todo problema comporta vários lugares de fala.
O machismo, por exemplo, é um fenômeno social. Logo, afeta a sociedade, ou seja, todos, não apenas mulheres. O fato de mulheres serem as vítimas mais óbvias do machismo não as faz todas automática e universalmente “mais conhecedoras” que qualquer outro, ou “donas exclusivas” do tema, até porque o machismo é criado e exercido majoritariamente pelos homens.
Ninguém exerce com eficiência um ofício que “desconhece”. Seria como dizer que as vítimas da dita¬dura militar conheciam mais de militarismo do que os militares, ou os torturados mais da tortura que os torturadores […], ambos os lados são conhecedores e aptos a se manifestar sobre o assunto, a diferença é de percepção.
O lugar de fala não é só questão de percepção, mas é grandemente, e essa é muito mais particular que coletiva […] No caso do racismo, há negros com muito menos autoridade de lugar de fala que brancos, pois só o conhecem com a percepção do vivido, não o conhecem teoricamente e nem em contextos diversos […], alguns até afirmam não ter vivência alguma […] , daí que é um equívoco neoativista a rei¬vindicação de exclusividade e/ou “superioridade absoluta de fala” coletiva pela mera pertença identitária.
O mundo está cheio de especialistas em objetos de pesquisa dos quais não fazem parte nativa ou na¬tural, mas que, pelo estudo, vivências (ou ambos) dominam excepcionalmente as questões relativas, mesmo que a partir de uma condição distinta. Aliás, a especialização hierarquiza e valoriza a fala, mas não deve impedir no contexto de debates livres e abertos a participação de não-especialistas, o lugar de fala não deve ser reivindicado como mordaça antidemocrática como infelizmente tem sido.
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manda o texto tabom
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para eu Responder
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