E Baleia fugiu precipitada, rodeou o barreiro, entrou no quintalzinho da esquerda, passou rente aos craveiros e às panelas de losna, meteu-se por um buraco da cerca e ganhou o pátio, correndo em três pés. Dirigiu-se ao copiar, mas temeu encontrar Fabiano e afastou-se para o chiqueiro das cabras. Demorou-se aí um instante, meio desorientada, saiu depois sem destino, aos pulos.
Defronte do carro de bois faltou-lhe a perna traseira. E, perdendo muito sangue, andou como gente, em dois pés, arrastando com dificuldade a parte posterior do corpo. Quis recuar e esconder-se debaixo do carro, mas teve medo da roda.
Encaminhou-se aos juazeiros. Sob a raiz de um deles havia uma barroca macia e funda. Gostava de espojar-se ali: cobria-se de poeira, evitava as moscas e os mosquitos, e quando se levantava, tinha folhas secas e gravetos colados às feridas, era um bicho diferente dos outros.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 144.ed. Rio de Janeiro: Record, 2020.
Vidas Secas figura entre os textos essenciais não apenas da chamada Geração de 30, mas sim da história da literatura brasileira. A história de Fabiano, Sinhá Vitória, Menino mais velho, Menino mais novo e Baleia propiciou um profundo e sensível retrato social de um Brasil cuja desigualdade social permanece. Dentre os trechos mais memoráveis da narrativa, temos o capítulo dedicado à morte de Baleia, que, como o narrador nos revela, é mais que um mero animal doméstico. Considerando a leitura do excerto e as explicações sobre a geração de 1930, analise as afirmações a seguir.
I. No excerto, observamos o uso econômico das palavras, marca da prosa de Graciliano Ramos, ao passo que o narrador não se prolonga na descrição dos fatos e cenas, mas as poucas palavras provocam duro impacto no leitor.
II. No excerto, observamos o antropomorfismo, marca da prosa naturalista, na medida em que o narrador apresenta-nos todos os fatos a partir da perspectiva da Baleia, que pensa e age como um ser humano.
III. A prosa regionalista da Geração de 30 preocupa-se em denunciar as mazelas sociais que acometiam principalmente os moradores da região nordeste, prevalecendo nessas obras o tom pessimista.
É correto o que se afirma em
Alternativas
Alternativa 1:
I, apenas.
Alternativa 2:
II, apenas.
Alternativa 3:
I e II, apenas.
Alternativa 4:
II e III, apenas.
Alternativa 5:
I, II e III.
Soluções para a tarefa
Resposta:
alternativa 5- l-ll-lll
Explicação:
Alternativa correta: 5 (I, II e III)
Graciliano Ramos:
Foi um autor responsável por transformar a literatura regionalista nos anos de 1930, utilizando descritores geográficos para caracterizar a obra e os acontecimentos narrados. É também conhecido por garantir grande profundidade psicológica aos personagens, mesmo com uma linguagem próxima à oralidade e muito objetiva, ilustrando um Brasil sem grandes adjetivos e assolado pela crise econômica.
A literatura de Graciliano Ramos enquadra-se na segunda fase do modernismo brasileiro, com relatos do cotidiano, nacionalismo e críticas históricas e culturais à política da época.
Uma de suas marcas é a utilização de metalinguagem, ou seja, a linguagem utilizada para descrever ela mesma.
Neste sentido, tem-se que a primeira afirmativa é correta, uma vez que descreve a estrutura dos textos de Graciliano Ramos, fundamental para criar dimensão de crítica social às obras.
A segunda alternativa também é correta em decorrência da profundidade psicológica da personagem Baleia que, apesar de ser um cachorro, em vários trechos da obra é descrita quase como um ser humano, dada à sua complexidade e importância na trama.
Por fim, a última alternativa também está correta, uma vez que o autor se encaixa na fase modernista brasileira, marcada pela crítica social por meio da arte.
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