Digamos que você tem uma rosa. Uma só.
Antes que eu continue, ela me interrompe: de que
cor? Pensei na rosa, mas não pensei na cor. Cor-de-
rosa, digo. Ela faz uma carinha de quem não aprova.
Rosa cor-de-rosa, que falta de imaginação! Branca,
me corrijo. Branca, não, ela corta. Vermelha. Tá
bem. Uma rosa vermelha. Vermelhinha? Sim,
vermelhíssima. Da cor do sangue vivo.
Digamos que você tem uma rosa, recomeço.
É a única que existe no mundo. A última? Não
interessa. No caso é a única. E é sua. Digamos que
você quer dar essa rosa a alguém. E se eu não
quiser dar? Aí a história acaba. Continuo? Continua.
Você tem que dar essa rosa a alguém. Uma pessoa
só? Sim, uma só. Fui dar corda, a menina não para
de falar. Verdadeira matraca. Já quer saber por que
tem de dar a rosa. Se é dela e é única, não vai dar a
ninguém. Vai vender.
Mas a história é assim: é a única, a última
rosa do mundo. E você tem que passar pra frente.
Se não der, ela explode e queima a sua mão.
Carinha de nojo, ela resmunga: rosa que explode e
pega fogo, essa não. Finjo que não ouço e vou
adiante. Você vai entregar essa rosa a quem mais a
merece. A faladeira quer saber se a rosa é bonita.
Lindíssima, já disse. Fresquinha. A última e mais
bela rosa do mundo. Não, não pode guardar. Nem
pode vender.
Novas tentativas de sair do script, mas eu
fecho todas as portas. Não pode mudar. Não
interessa quem inventou. É o teste da rosa. Existe
desde o princípio do mundo, digo convicto. E cale a
boca, por favor. Mais um minuto e a rosa estoura na
sua mão. Não é bomba, mas estoura. História
inventada é assim. Rosa estoura e pronto. Você tem
que dar a rosa pra alguém que a merece. A pessoa
que você mais ama. Dona do seu coração. Vale,
vale tudo. Gente grande, ou criança. Quem você
quiser.
Não, não podem ser duas pessoas. Mesmo
casadas, morando na mesma casa, não pode.
Também não vale. Pétala por pétala, não. É a rosa
inteira, perfumada. Uma beleza. Já disse que é a
mais bonita do mundo. Nunca mais vai existir outra
igual. E depressa, senão explode. Na sua mão, não
no vaso. Fresquinha, com gotas de orvalho que
brilham como pequenos sóis. Vamos logo, quem? A
quem você dá essa rosa? Ela sorri, zombeteira e me
faz a pergunta fatal: você está crente que eu dou pra
você, não está?
(Otto Lara Resende. Bom dia para nascer. São Paulo: Cia.
das Letras, 1993.). 4.Observe que no primeiro parágrafo é possível
perceber a fala da menina, mesmo que não
venha marcada por travessões ou aspas, mas ao
continuar a narrativa, essas falas vão sendo
substituídas pelo discurso indireto, isto é, o
narrador explica com suas palavras a fala da
menina. Na sua opinião:
a) Por que o narrador utiliza esse recurso?
b) Qual o efeito alcançado pelo autor ao fazer que
somente o narrador tenha voz?
Soluções para a tarefa
Respondido por
2
Resposta:
A)
Explicação:
confia no pai hehehehehehe
thais550:
vlw
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