como era o período pré-primeira guerra mundial?
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RIO — O século XX rompeu em paz e repleto de promessas. Um mundo novo e moderno se descortinava capitaneado por inovações tecnológicas, por importantes movimentos culturais e movido a muito carvão e eletricidade. O surgimento do cinema, a consolidação das comunicações via telégrafo e, logo depois, por telefone, globalizavam a informação.
Transatlânticos cruzavam os mares, cobrindo a distância da Europa às Américas em uma semana; o dirigível e o avião ganhavam os céus e os primeiros automóveis começavam a circular nas ruas das grandes cidades.
— A última guerra havia ocorrido em 1870 e, desde então, a Europa vivia um longo período de paz — explica o historiador Marcello Scarrone, da Revista de História da Biblioteca Nacional. — A burguesia dos diferentes países se considerava europeia, ocidental, e viajava muito, de um lado para outro, num circuito das classes mais abastadas do qual até mesmo a Rússia fazia parte.
CIÊNCIA E PSICANÁLISE
O intenso fluxo de ideias que se alastrava rapidamente pela Europa burguesa e intelectual abriu caminho para novas e revolucionárias ideias; da psicanálise de Sigmund Freud à Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein, passando pela sombria literatura de James Joyce e Franz Kafka.
Enquanto Einstein subvertia a noção de espaço e tempo, e Freud propunha a existência do inconsciente, Pablo Picasso distorcia as formas das suas “Demoiselles D’Avignon” para fundar a arte moderna. O mundo nunca fora tão moderno e promissor.
— A linguagem estética e científica acompanham o processo produtivo — sustenta o especialista em história contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), Bernardo Kocher. — É a segunda Revolução Industrial em marcha, com o uso da ciência e da tecnologia como elementos básicos da competição econômica, com a eletricidade, a química, a metalurgia, e a generalização da sociedade do consumo de massa, com a popularização de itens como o relógio de pulso, o chá, a bicicleta.
Scarrone concorda com o colega:
— Aquele era o grande momento da ciência na Europa, daquela sensação de quase certeza do inevitável e irrefreável progresso científico da Humanidade: todas as fronteiras do conhecimento seriam conquistadas, as respostas gerais e globais seriam encontradas.
Anacronicamente, as estruturas de poder se mantinham arcaicas, calcadas em impérios seculares, no expansionismo colonial, na exploração da mão de obra barata nas fábricas, nas péssimas condições de vida dos proletários nos grandes centros urbanos, na ausência de leis trabalhistas.
O mundo caminhava para um choque entre essas duas realidades tão distintas, entre transformação e tradição, que produziria uma das maiores carnificinas da História, derrubaria impérios e recriaria a ordem geopolítica mundial, entre 1914 e 1918.
— Governos constitucionais avançavam, mesmo na Rússia; a classe trabalhadora conquistava alguns direitos e benefícios, os sindicatos se fortaleciam — enumera a historiadora britânica Margaret MacMillan, da Universidade de Oxford, autora do recém-lançado “The war that ended peace” (A guerra que pôs fim à paz, em tradução livre). — Havia muitas mudanças acontecendo, e os problemas sociais certamente contribuíram (para a eclosão da guerra), certamente foram um fator, mas não a causa principal.
Margaret não considera, no entanto, que a guerra fosse inevitável:
— Conseguimos olhar para trás e ver por que ela aconteceu, mas não acho que fosse inevitável. Acho, sim, que foi um erro, que ocorreu por resultado de pressões, de tensões e de más decisões políticas.
Enquanto os europeus viviam os estertores de sua Belle Époque, da sua época de ouro, forças ideológicas e econômicas se conjuravam para pôr fim ao idílio burguês. O aumento do proletariado, o incremento do movimento operário e o fortalecimento dos sindicatos começam a insuflar novas ideias, desafiando os até então dominantes valores do capitalismo.
O século XX rompeu em paz e repleto de promessas. Um mundo novo e moderno se descortinava capitaneado por inovações tecnológicas, por importantes movimentos culturais e movido a muito carvão e eletricidade. O surgimento do cinema, a consolidação das comunicações via telégrafo e, logo depois, por telefone, globalizavam a informação.