História, perguntado por bibikamanski1, 9 meses atrás

Como era a família burguesa no século 19?

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Respondido por amandagomescae14
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Explicação:

A moral burguesa apresentada por Erich Hobsbawm, pode no mínimo ser caracterizada como “não muito clara”, por seu caráter contraditório em meio a certas etapas processuais concernentes à época analisada.

Primeiramente, cabe ressaltar uma meta, caracterizada enquanto “quintessência capitalista”, onde o burguês atuava em certas esferas político-econômicas como o “senhor”, “predador”, tendo como parâmetro uma lógica de mercado hobbesiana, ou seja, competitiva, voraz, desmedida em certos aspectos, objetivando atingir sua meta, nos mais requintados moldes maquiavelianos, vulgarmente expostos no axioma: “os fins justificam os meios”.

Entretanto, o ideal burguês não conseguia obscurecer certas “tradições” que o mesmo possuía enquanto discurso, com a funcionalidade de renegar tal tradicionalismo, demonstrando uma patente contradição entre o que se “prega” e o que se faz. Cristalizava-se uma prática comportamental ambígua, onde esferas conflitantes regimentavam uma permuta entre relações dissonantes.

O burguês definia a família como seguridade em relação aos ideais liberais tão incertos, flutuantes, onde observa-se tamanha alternância de status social, salvaguardando a plasticidade do mundo econômico competitivo.

No entanto, a sociedade burguesa contradiz a lógica econômica e esbanja ostentação, tendo como referência a ânsia em possuir, necessitando não apenas determinado acúmulo de capital, mas demonstrar suas posses através de extravagâncias na esfera privada, procurando um sentido extra-material. Os objetos adquiridos passam a moldar toda uma caracterização decorativa, tornando similar a conduta dos que dispusessem de tais “privilégios”, fortificando a meta material de uma classe.

Deve-se levar em consideração, que apenas a matéria, não conseguia suprir as aspirações burguesas, sendo necessário certos princípios que denotariam um sentido transcendental. Assim, as artes precisavam ser expostas, os objetos trabalhados manualmente (artesanalmente) teriam um valor além de uma produção serial, mecanizada. Os adereços comporiam um cenário que projetaria as aspirações burguesas, atendendo uma necessidade extra-corpórea ou espiritual, embora o “espírito burguês” esteja atrelado a matéria.

Outro ponto a ser destacado é a figura feminina, a mulher entra em cena, observando seu papel fundamental na ordenação doméstica, criando a imagem da “lady”, que na esfera patriarcal familiar, segue uma hierarquia que a priori, seria um contrasenso ao ideal burguês, demonstrando seu grau de influência na relações de poder e exercendo “poder de mando” na esfera privada, sendo subordinada ao marido, o “chefe” da casa.

Temos uma classe média emergente, ainda sendo diagnosticado, com maestria, por Hobsbawm, que a condição de alternância de classe, estava diretamente relacionada a condição de possuir empregados. A classe média iria se destacar da classe trabalhadora por possuir “condições materiais” que permitissem possuir empregados.

A família burguesa possui o ideal puritano de uma moralidade anômala aos ideais de ordem econômica, com a família não podendo ser aviltada, degenerada, necessitando outra esfera de atuação, que não fosse nociva a sua moral ilibada.

O jovem burguês, enquanto solteiro, sem ter regimentado uma estrutura familiar, poderia usufruir de certas “liberdades”, no que se refere a relacionamentos amorosos, o marido, compromissado com a moral puritana, apenas executava certas práticas de forma velada, mesmo sendo percebido em suas ações pela sociedade, deveria evitar comentários a respeito ou manifestações públicas que expusessem tal “degeneração”, o que justifica a disseminação da prostituição, por exemplo.

Percebe-se não uma hipocrisia, por não haver premeditação nas relações, apenas um fator comportamental patente, em meio ao desenvolvimento de uma moral burguesa contraditória por natureza. Tal comportamento velado, pode ser percebido no campo material-decorativo-burguês, onde observa-se as mesas expostas com suas pernas cobertas, como as mulheres e seus trajes confeccionados a demonstrar apenas o que fosse concebido enquanto necessário. Vale ressaltar que a moral burguesa não compactuava com a promiscuidade, sendo inclusive castradora e excludente aos que se deixassem envolver por prazeres.

O prazer, sendo relacionado com certa “degeneração”, uma paixão (pathos), ou seja, patológico, contrário ao ideal puritano que limitava o “vício”. O burguês deveria ter, ou pelo menos demonstrar ter, o controle sobre si, “domando” comportamentos que o desprestigiassem.

A tradição familiar chega ao ponto de favorecer grupos consanguíneos, aspirando um modelo aristocrático, condicionado por relações econômicas. Hobsbawm cita os denominados “clãs”, onde o casamento primaria pela família e ao mesmo tempo o favorecimento do acúmulo de capital entre famílias com certa paridade econômica, inclusive com permuta de propriedades e mulheres (também tornadas “objetos” de troca do burguês em uma relação matrimonial).

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