Carlos Franco
A história dos brinquedos é extensa e contraditória (1). Alguns historiadores registram a existência de bonecos de madeira e marfim que teriam divertido os faraós e era a representação do Império Egípcio. Para outros, esses mesmos bonecos, datados de 2000 antes de Cristo e encontrados nas tumbas dos faraós, eram representações rituais. Mas há enciclopédias e pesquisadores que sustentam que o homo sapiens, tal quais as descrições bíblicas da criação do homem, já produzia representações de pessoas e animais em barro (2), e esses seriam os primeiros moldes de bonecas de que se tem notícia.
Na Grécia e em Roma, 500 anos antes da era cristã, havia bonecas e marionetes. Nos escombros de Pompéia, um corpo de criança foi encontrado junto a uma boneca (3). Seja como for, a boneca, tal qual a conhecemos hoje, apesar da evolução dos materiais e da sua produção em plástico a partir dos anos 40 do século passado, data do século 15, em Nuremberg, na Alemanha. A cidade reunia artesãos que ficaram conhecidos pelos brinquedos e chegou até a ocorrer rivalidade com os produtores de Leipzig (4), onde havia feiras em que os produtos eram apresentados e passavam por inovações.
Aos franceses são atribuídos os primeiros bonecos de papel machê, a massa de papel molhado e cola que permitia moldes exclusivos (5). Daí foi um passo para o uso da louça na confecção dos rostos, mãos e pés (6). Mas, se as bonecas se tornaram com o passar do tempo um brinquedo de menina, para os meninos surgiram outros, alguns ligados a jogos (7). As primeiras bolas de gude de que se tem notícia teriam surgido 3 mil anos antes de Cristo, eram feitas de pedras semipreciosas e estavam no túmulo de uma criança egípcia. Da mesma época datariam os piões, usados na Babilônia, o território onde hoje está o Iraque e é palco dos conflitos da primeira guerra do século 21.
Chocalhos, hoje um brinquedo para bebês e instrumento musical, por sua vez, teriam surgido no Egito por volta de 1360 a.C., conforme modelo em forma de pássaros e animais existente em museus (8).
O primeiro esboço de bicicleta, por exemplo, teria saído do famoso desenho de Leonardo da Vinci (1452/1519), mas somente em 1790 ganharia as ruas. Os soldadinhos de chumbo teriam surgido no século 14, quando reis começavam a visualizar suas tropas com esses modelos. Napoleão III, sobrinho de Napoleão Bonaparte, eleito presidente da França em 1848 e três anos depois imperador, era um admirador dos trenzinhos de ferro e tinha vários deles nos palácios franceses.
As caixinhas de música, que tinham tudo a ver com o período romântico, teriam sido criadas na Suíça em 1770, usando o conhecimento de relojoaria, uma vez que tinham um pente com dentes de metal que batia num cilindro que girava movido por peças de relógio (9).
Os famosos carrinhos dos meninos vão acompanhar a indústria automobilística e surgem nos anos 20. Mas é o plástico, a partir dos anos 40, que populariza os brinquedos então pouco acessíveis aos mais pobres, que tinham acesso apenas a bonecas de pano e brinquedos de madeira (10). Os de metal e papel machê ou louça eram objeto do desejo de muitos e brincadeira de poucos.
O Estado de S.Paulo, 23/3/2003, p. B8.
Como você sabe, é muito raro encontrarmos textos “puros” – mesmo que uma das modalidades predomine, a maioria deles apresenta passagens características de outra modalidade. É o que acontece com o relato acima: embora a narratividade prevaleça, há momentos em que se percebe, claramente, a descritividade.
Das passagens em negrito, aquelas em que predomina a narratividade