Português, perguntado por rayannetinelli, 9 meses atrás

A vida do outro é sempre mais fácil
Por Isabel Clemente

Coisa que me incomoda são os discursos de autopiedade. Por serem des- providos de autocrítica ou por não indicarem solução para a autocomisera- ção, soam-me como labirintos de palavras inúteis. Pavimentam caminhos que não levam a lugar algum. Elevados às raias do exagero, esses discursos também excluem o outro da conversa porque geralmente quem reclama demais só ouve a si mesmo, além de transmitir a seguinte mensagem: sua vida é muito mais fácil do que a minha, só te resta me escutar. E está selada, assim, o fim da nossa amizade. Uma variação do discurso de autopiedade é aquele que arvora para si o monopólio da experiência.

Nasci antes, portanto, sei mais do que você. Já passei por isso, sua experiência me é desnecessária. No final das contas, a conclusão de quem pensa assim é que o outro nada pode lhe acrescentar. Ela busca confirmar a própria penúria e se rotula, sem perceber, como al- guém digno de pena. Essa pessoa é uma ilha, onde só chegam a nado os escolhidos, que serão poucos, aliás, e todos como ela mesma. Basicamente um lugar chat

E tem também a versão autopiedosa de quem prefere julgar o outro pelo que ele parece ser. Em pé, na banca, a mulher do lado comenta a terceira gravidez de Angélica. “Com todo esse dinheiro, até eu teria três filhos”. Vai dizer que você nunca ouviu isso? A mulher resolveu se justificar jogando para o outro, a Angélica, a “vida fácil” que ela não tem. É claro que o dinheiro ajuda. Proble- mas práticos se afastam. Você contrata alguém para cozinhar, lavar, arrumar, pagar suas contas e até organizar o seu armário, se quiser. E tem todo o gla- mour, as portas que se abrem, a profissão que rende dinheiro, etc. Quase um conto de fadas. Mas ter filhos é mais do que bancar escola, médico, roupas e brinquedos. É mais do que proporcionar viagens e conforto. O que um filho precisa mesmo é de atenção e proteção, e essas mercadorias podem faltar tanto nas famílias abastadas como nas carentes. Além do mais, o imponderá- vel da vida é democrático, vale para todos nós. Muitas vezes é essa sensação de não controlar o mundo que deixa as pessoas inseguras e com medo. Para esse medo, não tem dinheiro que dê jeito.

Não sei da vida da Angélica, não é minha amiga e nunca a entrevistei. O que eu quero dizer é que apontar os privilégios alheios para justificar as minhas dificuldades é o pior caminho. O fato do outro não ter passado pelas mes- mas experiências, de não ter necessariamente “começado de baixo”, de não ter sofrido com uma determinada doença, não ter ficado desempregado não o desqualifica, apenas o caracteriza como alguém diferente de quem passou por tudo isso. É bom se identificar. Abrimos as portas da nossa alma para pessoas que parecem refletir nossos pensamentos. Nada mais reconfortante do que ler uma crônica política que traduza nossa indignação. É libertador rir de uma cena no cinema que parece tirada da nossa vida particular. Mas nada mais enriquecedor do que descobrir no outro, sentimentos como os meus. É a hu- manidade que nos aproxima. E humanidade é o único antídoto que conhe- ço para a intolerância e para o monopólio da dor. Se somos todos humanos, rimos e choramo

1- Analise o título do texto e identifique qual é o pressuposto por ele evocado e quais são as ideias por ele acionadas que podem vir a ser comprovadas pela leitura do texto.

2. Releia o texto e reescreva-o com suas palavras, apenas reportando as infor- mações principais.

3. Indique, em uma frase, o ponto de vista (ou ideia núcleo) de cada parágrafo.

4. Releia o texto novamente e preste atenção em como se dá a passagem de um parágrafo a outro, a ligação entre os pontos de vista dos parágrafos, pensan- do no uso do conhecimento de mundo, conhecimento linguístico e conheci- mento situacional.

5. Agora, faça um esquema do texto.

6. Por fim, ao reler o texto, suas anotações e o esquema, escreva uma frase que mostre a compreensão final do texto.

Alguém me ajuda?

Soluções para a tarefa

Respondido por Mateusfern94
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Resposta:

DE UM MURRO NELA QUE ELA APRENDE HORA FICA DE CONVERSINHA

Explicação:

PROUCURE ISSO NO TEXTO POIS ISTO E A RESPOSTA

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