10. (Enem-MEC) Leia o texto.CabeludinhoQuando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu. Como quem dissesse no Carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha avó entendia de regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou: Disilimina esse, Cabeludinho. Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me escreve / que eu não sei a ler. Aquele "a" preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro.Manoel de Barros. Memórias inventadas: a infância.São Paulo: Planeta. 2003.No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades de uso da língua e sobre os sentidos que esses usos podem produzir, a exemplo das expressões "voltou de ateu", “disilimina esse" e "eu não sei a ler". Com essa reflexão, o autor destaca: •)•) os desvios linguísticos cometidos pelos personagens do texto.b)a importância de certos fenômenos gramaticais para o conhecimento da língua portuguesa.c)a distinção clara entre a norma culta e as outras variedades linguísticas.d)o relato fiel de episódios vividos por Cabeludinho durante as suas férias.•) a valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da linguagem.
Anexos:
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Vamos analisar cada alternativa da questão por vez para, ao final, estabelecer a resposta correta:
a) Falsa. O autor claramente não considera esses desvios da variedade padrão muito graves. Na verdade, ele os admira.
b) Falsa. A gramática mal é abordada no texto.
c) Falsa. Tal distinção é até abordada, mas não recebe muita atenção.
d) Falsa. Não há como saber isso, e esse sequer é o objetivo do texto.
e) Verdadeira. Trata-se exatamente do destaque do texto.
Como a única alternativa correta da questão é a e, trata-se da resposta correta.
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96
Resposta:
a valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da linguagem.
Explicação:
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