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XX – O cemitério da fortaleza de If
Aprisionado injustamente por 15 anos na fortaleza de If, uma prisão em alto-mar, Edmundo Dantes tenta uma fuga desesperada na esperança de sobreviver para se vingar dos seus inimigos.
Só! Achava-se outra só! Outra vez no meio do silêncio, em frente do nada!...[...]
A ideia do suicídio, repelida pelo amigo, afastada pela sua presença, veio então erguer-se outra vez como um fantasma ao pé do cadáver de Faria. [...]
- Morrer!... oh! não, não! – exclamou!; não valia a pena ter vivido tanto tempo, padecido tanto, para morrer agora! Morrer era bom, quando o revolvi em outro tempo, há muitos anos; mas hoje seria realmente auxiliar muito o meu miserável destino. Não, quero viver; quero lutar até o fim; quero reconquistar a ventura que me foi roubada. Antes de morrer esquecia-me que tenho de vingar-me dos meus algozes, e talvez, quem sabe? De recompensar alguns amigos. [...]
Puseram o suposto morto na padiola. Edmundo entesou-se para melhor figurar de defunto. O cortejo, alumiado pelo homem da lanterna, que ia adiante, subiu a escada.
De súbito, o ar frio e forte da noite banhou o prisioneiro, que logo reconheceu o vento do nordeste. Foi uma repentina sensação, repassada de angústias e de delícias. [...]
E logo Dantes sentiu-se atirado para um enorme vácuo, atravessando os ares como um pássaro ferido, caindo, sempre com um terror indescritível que lhe gelava o coração. Embora puxado para baixo por algum objeto que lhe acelerava o rápido vôo, pareceu-lhe, contudo, que essa queda durava um século. Por fim, com pavoroso ruído, entrou como uma seta na água gelada, que lhe fez dar um grito, sufocado imediatamente pela imersão.
Dantes tinha caído ao mar, para o fundo do qual o puxava uma bala de 36, presa aos pés.
O mar era o cemitério da fortaleza de If. [...]
Dantes, atordoado, quase sufocado, teve, entretanto, a presença de espírito de conter a respiração; e como na mão direita, preparado, como dissemos que estava, para todas as eventualidades, levava a faca, rasgou rapidamente o saco, tirou o braço e depois a cabeça; apesar, porém, dos seus movimentos para levantar a bala, continuou a sentir-se puxado para baixo; então vergou o corpo, procurando a corda que lhe amarrava as pernas, e com um esforço supremo conseguiu cortá-la no momento em que se sentia asfixiar. Depois, dando-lhe um pontapé, subiu livre à tona da água, enquanto a bala levava para desconhecidos abismos a serapilheira que ia sendo a sua mortalha.
DUMAS, Alexandre. O conde de Monte Cristo.
Porto: Lello & Irmão, s/d. p.178-182; p.183.
(Fragmento).
QUESTÕES
1 - Explique que sentimentos dominam Edmundo Dantes no momento em que se encontra diante do cadáver do amigo.
2 - Copie no caderno o trecho em que o herói explica sua história individual.
A - Qual é essa missão?
B - De que forma os anseios de Dantes revelam que, diretamente das epopeias, nessa narrativa o herói apresenta de modo mais claro sua dimensão pessoal e humana?
3- Por que o fato de Dantes desistir de cometer suicídio revela sua dimensão heroica?
4- O que há de heroico na fuga de Dantes da fortaleza de If? Explique.
Soluções para a tarefa
2-
a) A missão de Edmundo Dantès é poder sair da prisão, se vingar dos algozes que tanto fizeram mal à ele e aos seus amigos.
b) Os heróis, na maioria das vezes são pessoas que prezam o bem em qualquer circunstancia, já Edmundo, embora considerado um herói, também mostra a dimensão humana pela vontade árdua de vingança, por ver o seu amigo morto essa chama foi reacendida, uma vontade de recompensar os amigos mortos, de poder sair e fazer com que seus algozes paguem com a mesma moeda as desgraças que lhe foi submetido.
3- Porque a compaixão e a solidariedade de poder se vingar das pessoas que tanto causaram sofrimento à ele e aos seus amigos, foi maior do que qualquer vontade de desistir.
4- Porque mesmo afundando com um peso amarrado aos pés, conseguiu escapar do que seria a sua mortalha, com calma e agilidade, ainda movido pelo sentimento de vingança e de compaixão.
Resposta da 1)
Os sentimentos que dominam Edmundo Dantes no momento em que se encontra diante do cadáver do amigo são de fúria e indignação, uma vontade ferrenha de poder se vingar e poder recompensar aos seus amigos e a ele mesmo.
Resposta da 2. a)
A missão de Edmundo Dantes é poder sair da prisão, se vingar dos algozes que tanto fizeram mal à ele e aos seus amigos.
"Aprisionado injustamente por 15 anos na fortaleza de If, uma prisão em alto-mar, Edmundo Dantes tenta uma fuga desesperada na esperança de sobreviver para se vingar dos seus inimigos."
Resposta da 2. b)
Os heróis, na maioria das vezes são pessoas que prezam pelo bem em qualquer circunstancia. Edmundo, embora considerado um herói, também mostra a dimensão humana pela vontade árdua de vingança.
Ao ver o seu amigo morto, a chama da vingança se reacendeu e surgiu uma vontade de recompensar os amigos mortos, de poder sair e fazer com que seus algozes pagassem com a mesma moeda as desgraças que lhe foi submetido.
Resposta da 3)
Porque a compaixão e a solidariedade de poder se vingar das pessoas que tanto causaram sofrimento a ele e aos seus amigos, foi maior do que qualquer vontade de desistir.
"Não, quero viver; quero lutar até o fim; quero reconquistar a ventura que me foi roubada. Antes de morrer esquecia-me que tenho de vingar-me dos meus algozes, e talvez, quem sabe? De recompensar alguns amigos. [...]"
Resposta da 4)
Porque mesmo afundando com um peso amarrado aos pés, conseguiu escapar do que seria a sua mortalha com calma e agilidade mesmo que ainda movido pelo sentimento de vingança e de compaixão.
"Dantes, atordoado, quase sufocado, teve, entretanto, a presença de espírito de conter a respiração; e como na mão direita, preparado, como dissemos que estava, para todas as eventualidades, levava a faca, rasgou rapidamente o saco, tirou o braço e depois a cabeça; apesar, porém, dos seus movimentos para levantar a bala, continuou a sentir-se puxado para baixo; então vergou o corpo, procurando a corda que lhe amarrava as pernas, e com um esforço supremo conseguiu cortá-la no momento em que se sentia asfixiar."
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