Uma chuvinha renitente açoita as folhas da mangueira que ensombra o fundo do meu quintal, a água empapa o chão, mole como terra de cemitério, qualquer coisa desagradável persegue-me sem se fixar claramente no meu espírito. Sinto-me aborrecido, aperreado. [...] Penso em mestre Domingos, no velho Trajano, em meu pai. Não sei por que mexi com eles, tão remotos, tão diluídos em tantos anos de separação. Não têm nenhuma relação com as pessoas e as coisas que me cercam. Releio com desgosto o artigo que vou dar a Pimentel. Os defuntos antigos me importunam. Deve ser por causa da chuva. Nos meses compridos daqueles invernos de serra muitas vezes fiquei tardes inteiras sentado à porta da nossa casa na vila, olhando a rua que desaparecia debaixo de um lençol branco de água em pó. Os chuviscos entravam pela sala, os móveis e a roupa da gente pareciam cobrir-se de pontinhas de alfinetes. De tempos a tempos um vulto embuçado passava na calçada. O velho Acrísio, de cachimbo na boca, chegava à janela para conversar com meu pai. Não entrava: dava umas notícias, esfregando as mãos, aguentando aqueles pinguinhos que não molhavam, apenas lhe umedeciam o capote e o cachenê de lã vermelha. RAMOS, Graciliano. Angústia. Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 27-28. No trecho, o trabalho da memória: A funciona como instrumento escapista, distanciando o narrador dos problemas de seu próprio tempo. B permite ao narrador estabelecer profundas diferenças entre passado e presente. C sofre a interferência das perturbações que o entorno imediato provoca no narrador. D serve de explicação para o estado de espírito que toma conta do narrador. E conduz o narrador a construir uma versão idealizada da própria infância.
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oooo, c n tem as resposta do simulado ai?
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