Um“inesquecível”dia
Vinha pedalando. Do nada, um mastodôntico caminhão passou ao meu lado e jogou-me uma enxurrada de lama. Pior… depois disso, eu pedalava, pedalava, pedalava e não saía do lugar, derrapando no barro imundo.
Então, de repente, uma voz sussurrou:
– Aquele caminhão é as adversidades; a bicicleta que montas, tua resistência.
– Quem está falando? – perguntei suja e assustada. Ao que a voz me respondeu:
– Mais não digo, senão perdulário das palavras serei!
– Perdu o quê? – perguntei atônita. Disse a voz, com pitadas de escárnio:
– Consulta o “Pai dos Burros”. Fui!
Acordei. ‘Ai! que dor na batata da perna!’ Minha perna direita estava parecendo um pacote roliço de mortadela. Corri até a farmácia, pensando em um anti-inflamatório. Mas…
– Você é uma anta ou o quê? Cadê a receita? Não sabe que para anti-inflamatório precisa de receita?
– Perguntou a mau amada atendente, ignorando a minha dor e com o pouco-caso estampado na cara.
Respondi, já me sentindo derrotada:
– Ei, ignorância! também não precisa falar assim!
Voltei à casa manquitolando. Tinha de correr para tomar banho, pois ia cair Monteiro Lobato na prova e eu pouco tinha estudado. Porém, ao chegar, outra bofetada do destino:
– Filha, o chuveiro pifou… – disse minha mãe com ar de pena. E, com manias de mãe, emendou:
– Você não vai tomar banho de chuveiro queimado, vai?
– Não tenho tempo, vou! – disse, em um frangalho de decisão. Meu pai, que tinha um bom coração, sugeriu:
– Faz o seguinte então, toma logo esta caixa de antigripal, porque o barato tá louco lá no banheiro!
Peguei o antigripal, mas não dei atenção, porque a minha aflição, no momento, era a perna latejando. E essa mesma perna, depois de alguns minutos, já estava no cinza da rua, rastejando em busca de um ônibus. E nessa peregrinação, no que dei um espirro, senti o nariz escorrendo…
Só pode ter sido o banho de gripe que tomei! Que diabos está acontecendo comigo hoje? Será que houve uma revolução na cadeia alimentar e eu me tornei presa do próprio homem? Ou será que eu sou a última mortal e o resto é tudo alienígenas?
Parou o ônibus e a porta abriu-se. Uma bengala desceu tateando os degraus em busca de terra firme, mas achou também a minha perna lesionada… Efeito borboleta: meus olhos foram inundados e minhas arcadas dentárias quase se fundiram uma na outra! Cheguei a sentir caquinhos de dentes na língua depois.
Ah! Um banco vazio! Eu só precisava de um banco vazio! ‘Deus, obrigada!’ ‘Obrigada, motorista!’ ‘Obrigada, cobrador!’ ‘Obrigada, trombadinha!’ Trombadinha??? ‘Trombadinha!!!’ Mas já era tarde, meu celular já tinha sido subtraído. Bom, “vão-se os dedos, ficam-se os anéis”, ainda tenho um banco inteiro só para mim. Vou estudar. No entanto…
Sentou-se um homem ao meu lado. Eu nem gostaria de dizer o que vou dizer agora, mas se existirem mil portas e uma for a do fracasso, pode ter certeza que é essa que vai ficar destrancada… É isso que você entendeu, Murphy na minha vida!
Não estou dizendo isso só porque se sentou um homem ao meu lado. Estou dizendo isso porque se sentou um homem ao meu lado com uma garrafa de champanhe embaixo do braço e com bafo de gambá morto no álcool. A garrafa era só um embuste, o conteúdo era Velho Barreiro.
Ainda por cima, dirigiu-me a palavra. Não sem, antes, pigarrear, ato típico dos grandes oradores. Começou falando do PT e dos desmandos do governo. Seguiu com a corrupção e que os mandatários só estavam interessados no níquel. Deu uma guinada e começou a falar das pirraças de sua esposa; disse também que passara a noite toda no Alemão, tomando ‘todas’ e que o Brasil tinha ganhado medalha de ouro na natação.
Em cada frase, um gole entrava, um soluço saía. Em cada frase, meus olhos turvavam com aquela atmosfera etílica, levando meu café da manhã a ensaiar uma rebelião no estômago, para fuga em massa. Em dados momentos, tinha lapsos de perdas de sentido e só ouvia o zum-zum-zum da voz ébria. Tentei o diálogo, juro, mas ele continuava sem me ouvir. Não sei se o que ele queria era um palanque ou só arruinar minha vida mesmo.
O que sei é que, na última vez em que os meus sentidos capturaram o bêbado entrando pelas minhas narinas, em uma frase longa e sem vírgulas que ele desferiu, não consegui mais conter a rebelião e os revoltosos ganharam as minhas pernas, o chão, o mundo, a eternidade…
Gabriel5840:
Cheguei ao colégio vomitada, com o estômago revirado, sem estudar, sem celular, gripada, com a perna dolorida. E ainda eram sete e trinta da manhã! Sim, sete e trinta da manhã… Corri até a cantina, mas só havia coxinha, uma coxinha apática e sem chorinho de recém-nascida… na casca, óleo; na massa, farinha crua; no recheio, uma pena de galinha.
R:
02. Metonímia (0,5)
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03. Catacrese (0,5)
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04. Sinestesia (0,5)
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05. Hipérbole (0,5)
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06. Eufemismo (0,5)
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07. Comparação (0,5)
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08. Personificação ou prosopopeia (0,5)
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09. Antítese (0,5)
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10. Aliteração (0,5)
Soluções para a tarefa
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Resposta:
não entendi sua pergunta ....
posso ajudar em alguma coisa ?
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