Tudo sobre o Aborto
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Resposta:
O aborto representa um dos temas mais polêmicos no que se refere aos direitos reprodutivos. Estima-se que a cada ano ocorram de 750 mil a l milhão de abortos clandestinos no Brasil. Sua prática é considerada crime, exceto nas situações de risco de vida da gestante e gravidez resultante de estupro (art. 128 do Código Penal). Em média, anualmente, 250 mil mulheres são internadas no Sistema Único de Saúde (SUS) vítimas de abortos inseguros. Dessas, 10% morrem e 20% ficam com seqüelas. O aborto inseguro é praticado principalmente por mulheres negras e pobres, que não podem pagar uma clínica particular clandestina. Recentemente, o Ministério da Saúde regulamentou e implementou normas técnicas que garantem à mulher o aborto nos hospitais da rede pública para os casos previstos em lei. Iniciativas como essa e como a campanha promovida pelo movimento de mulheres, que procura garantir a interrupção da gravidez nos casos de má-formação fetal incompatível com a vida (tal como a anencefalia), têm provocado fortes embates no Congresso Nacional e, em menor escala, no Supremo Tribunal Federal. Veja, a seguir, os principais argumentos defendidos pelos dois lados do debate.
O movimento feminista e de mulheres argumenta que, apesar de a Constituição atribuir ao Estado o dever de assegurar os recursos educacionais e científicos para o exercício do direito ao planejamento familiar (art. 226), o que se verifica na prática é que as mulheres que decidem não ter filhos encontram dificuldades de acesso à informação e a métodos contraceptivos, cuja oferta nos serviços públicos fica muito aquém da demanda. A ausência de uma política pública eficiente para o planejamento familiar é considerada, pelo movimento de mulheres, a grande responsável pelo alto número de gravidez in-desejada que freqüentemente resulta em aborto. A prática é comum no Brasil e em quase todo o mundo. A diferença é que, em muitos países, o aborto está legalizado e as mulheres têm atendimento público e seguro para a interrupção da gravidez. No Brasil, exceto nas situações de risco de vida da gestante e gravidez resultante de estupro, a prática do aborto é criminalizada, o que obriga as brasileiras a recorrerem a serviços clandestinos, responsáveis por inúmeras seqüelas ou morte das mulheres. Na prática, portanto, a descriminalização do aborto representaria a garantia de um atendimento de saúde de qualidade para aquelas que optam por fazê-lo. Nessa perspectiva, o aborto é concebido como uma questão de saúde pública e de cumprimento dos direitos das mulheres. "A mulher tem condições éticas e morais de decidir sobre seu próprio corpo e de controlar sua capacidade reprodutiva", argumentam as integrantes da ONG feminista Católicas pelo Direito de Decidir: "sem essa liberdade de escolha, não é possível a justiça social".
Entre os setores sociais organizados contra o aborto, que lutam tenazmente contra sua legalização e pela eliminação de sua autorização nos casos previstos na legislação, destaca-se a Igreja Católica, representada oficialmente no Brasil pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). No documento Valores Básicos da Vida e da Família, a CNBB faz um apelo às autoridades, aos médicos e aos enfermeiros, aos responsáveis pelos meios de comunicação de massa e "a todos os católicos e homens de boa vontade" no sentido de promoverem ações que restaurem a dignidade humana "frente à escalada da permissivi-dade moral, ao planejamento familiar mal orientado e à lastimável campanha para a legalização do aborto". Para a CNBB, entre os principais problemas da sociedade contemporânea estão a permissividade e a injustiça social. A permissividade é caracterizada, entre outros aspectos, pela busca desenfreada do prazer sexual, que coloca de lado os valores fundamentais da família. A injustiça social leva ao controle da natalidade, percebido como inadequado aos princípios cristãos. Desse modo, critica-se o planejamento familiar seja também por estar fundamentado na busca de prazer e comodismo, seja por imposição econômica decorrente de uma sociedade injusta. A partir desse ponto de vista, o aborto é condenado não apenas por constituir uma forma de planejamento familiar, mas também porque é considerado uma das formas mais cruéis de violência contra a vida humana, "um crime que brada aos céus". Argumentando contra o direito exclusivo da mulher sobre seu corpo e chamando atenção para a situação alarmante dos abortos clandestinos, a CNBB proclama "a inviolabilidade da vida, desde o primeiro instante da concepção no seio materno. O direito à vida é o direito fundamental do nascituro". Por fim, o documento da CNBB lembra que "a lei humana não pode permitir o que a Lei de Deus proíbe: 'não matarás'". Os argumentos em defesa da vida desde o primeiro momento da concepção são adotados não apenas pelos cristãos de diferentes denominações, encontrando amplo alcance na sociedade.