Trabalho sobre: Casamento para mulheres na China
Soluções para a tarefa
A desigualdade de gêneros é algo presente em todo o mundo e seu grau varia de país para país. Para entender a situação da mulher chinesa em Hong Kong, e na China em geral, é preciso conhecer alguns aspectos culturais e políticos.
Ouve-se muito falar que chineses preferem meninos a meninas, mas não se sabe muito bem o porquê. Antes de vir para Hong Kong eu pensava que isso não acontecia mais, que era algo do passado. Infelizmente, vi que não é bem assim. Diversas amigas aqui me relataram casos que provam que os pais preferem filho homem. Na cultura chinesa, a filha é vista como uma despesa, pois quando ela se casar, não continuará o nome da família (a esposa não precisa adotar o nome do marido mas o filho que ela tiver não levará seu sobrenome, mas só o do pai). Além disso, é o filho homem que tem obrigação de cuidar dos pais quando idosos e até mesmo depois de falecidos (leia sobre a tradição de oferendas aos ancestrais falecidos aqui). As filhas ficam responsáveis por cuidar da família do marido. A preferência ficou ainda mais visível devido à política do filho único, que limitava a maioria dos casais chineses a ter somente uma criança.
Políticas públicas
Antes de mais nada, é preciso fazer algumas ressalvas: em Hong Kong não valia a política do filho único, porque a cidade pertencia à Inglaterra quando a política entrou em vigor, há cerca de 40 anos. Além disso, nesse ano de 2017, essa política foi revisada e os casais chineses agora podem ter até dois filhos. Mesmo assim, é interessante conhecer alguns aspectos dessa política que nos ajudam a entender a situação da mulher chinesa.
Antes da flexibilização da política, se o casal quisesse ter uma segunda criança, teria que pagar uma multa e essa segunda criança teria o acesso dificultado a alguns direitos. Por exemplo: não teria direito à escola pública (e as particulares têm custo bastante acima da média). Além disso, a mulher com emprego público que tivesse uma segunda criança, perdia o emprego. Se fosse o pai que trabalhasse como servidor público não. Já se ambos fossem funcionários públicos, um perderia o emprego sendo este, geralmente, a mulher. Essa situação já permite visualizar que a desigualdade de gênero na China começa com a própria lei.
Uma exceção para a regra do filho único era para casais que moravam na zona rural. Eles poderiam ter uma segunda criança, caso a primeira fosse menina.
O aborto é legalizado e realizado em hospital público. Se for uma segunda gravidez então, a mulher é encorajada a fazer o aborto.
Juntando a cultura de preferir menino, a política do filho único e a facilidade em abortar, o governo temia que muitos casais abortassem caso o ultrassom revelasse que estavam esperando por uma menina. Por isso, os médicos chineses são proibidos por lei de revelar o sexo do feto ao casal. Isso na teoria porque, na prática, aqueles que realmente querem menino dão um jeito: subornam o médico ou vêm para Hong Kong ou outro lugar para saber o sexo do bebê. Uma amiga me contou de um caso em que uma mulher fez 12 abortos até engravidar de um menino.
Outro aspecto da política pública que dificulta a vidas das mulheres é a situação da mãe solteira. Se uma mulher não casada tem filho, a criança não tem direitos, como o de frequentar escola pública. A mãe tem ainda que pagar uma multa (chamada de taxa de compensação social). Pesquisando em inglês não consegui achar o valor exato dessa multa mas minhas amigas chinesas estimam que seja em torno de 2500 a 4000 dólares americanos.
Pequenos imperadores e mulheres solteiras
Toda essa situação origina outro fenômeno cultural: os pequenos imperadores. Os filhos únicos e sem primos, são o centro de atenção da família toda: dos pais e dos 4 avós. Quando são meninos, a família os trata como preciosidades que não podem ser contrariadas ou colocadas em situações “de risco”. Assim, os meninos crescem se achando especiais e aqueles mais espertinhos aprendem a manipular toda essa atenção, ditando as regras da família como pequenos imperadores. No metrô em Hong Kong vejo vários adultos cedendo lugar aos meninos, mesmo em detrimento de um idoso. Aliás, se um avô ou avó entra com o neto no metrô e tem um assento vazio, coloca o menino para sentar e fica em pé. Enquanto isso, as meninas são educadas para servir e obedecer. Esse tratamento diferenciado para meninas e meninos repercute na vida adulta. O que percebo das pessoas que conheci aqui, claro que em linhas muito gerais, é que os homens têm mais auto confiança e as mulheres são mais tímidas e inseguras.