texto sobre feminismo que envolva desigualdade
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Resposta:
capitalismo é essencialmente desigualador. Na sua dinâmica, busca eliminar quaisquer obstáculos ao seu livre trânsito e, nesse processo, vai dissolvendo todas relações sociais onde não há diques suficientes para contê-lo (Belluzzo; Galípolo, 2019). Quanto às mulheres, o capitalismo constituído e a grande indústria alteraram de forma significativa sua posição econômica, separando as esferas produtivas e reprodutivas. Essa separação passou a ser funcional para o sistema econômico e social em formação, atribuindo às mulheres papel de reprodutoras de força de trabalho. A constituição do capitalismo e a mercantilização possibilitaram que permanecesse invisível o processo cotidiano de reprodução da vida. Ao mesmo tempo, as mudanças na estruturação do modelo de família, visto como separado da esfera da produção, isolavam de maneira singular as mulheres em nova configuração da vida privada. Nessa caminhada, vai se conformando estrutura de hierarquia nas relações sociais em que a superioridade masculina se expressa em todas as dimensões da vida. Superioridade que passa a ser legitimada por um arcabouço legal e institucional que nega às mulheres o direito de se constituírem como sujeitos político e social (Teixeira, 2017). Com as mudanças introduzidas pelo capitalismo nas formas de organização da produção e do trabalho, alteram-se os padrões de relação, intensificando-se a exclusão das mulheres, cuja capacidade produtiva foi limitada ao campo doméstico ou aos baixos salários do trabalho não qualificado. Na transferência do trabalho da produção familiar para o assalariado, alterou-se o valor atribuído à capacidade produtiva do trabalho da mulher, cabendo à família apenas a porção do que consegue obter nas barganhas do mercado. Essa perspectiva das feministas socialistas trouxe elementos à análise crítica sobre a inserção das mulheres no mundo produtivo, ajudando a estruturar uma visão materialista sobre as desigualdades. Uma das formas na qual o marxismo se diferencia das teorias “burguesas” da sociedade é justamente no compromisso com o materialismo, ou seja, com a teoria fundamentada nas práticas humanas e sociais.
O capitalismo é um sistema de relações de troca em que tudo, incluída a força de trabalho, tem preço. Todas as transações são transações de troca. Para a perspectiva feminista, além das relações de troca, o capitalismo se insere em um sistema de relações de poder. Essa análise do poder e das classes sociais é fundamental para compreender a opressão das mulheres. Embora se reconheça a crítica que o marxismo fez à economia de mercado, os primeiros autores, contudo, não alcançaram uma formulação que desse conta do impacto do trabalho de reprodução na dinâmica capitalista. Sem trabalho doméstico, os trabalhadores não se reproduzem e, sem trabalhadores, o capital não pode ser reproduzido. Para as feministas socialistas é central, para entender as contradições das relações entre mulheres e homens, definir o lugar do trabalho – e o trabalho das mulheres – na dinâmica da sociedade, da economia e das relações sociais, debate no qual emergem várias outras questões. E é a partir de Marx e Engels que, mesmo com críticas, estruturam a análise das raízes históricas da opressão das mulheres como ferramenta teórica importante para se entender as relações de poder e sua reprodução no processo de opressão e exploração.
As principais contribuições do marxismo para o feminismo são: i) desnaturalização da opressão das mulheres; ii) método para compreender as bases materiais das relações sociais de desigualdade, exploração e opressão; iii) análise das origens da opressão das mulheres que, embora limitada em alguns campos, abriu perspectivas para aprofundamentos futuros; iv) compreensão da família como fenômeno social em evolução, estabelecendo ligação entre mudanças estruturais nas relações familiares e na divisão sexual do trabalho; v) ligação entre ideologia e interesses materiais e papel na reprodução das relações de poder.
Os debates feministas socialistas trouxeram contribuições decisivas sobre relações sociais de sexo e a compreensão do trabalho como estruturador das relações sociais, tendo papel primordial as reflexões de Danièle Kergoat e Helena Hirata sobre a centralidade do trabalho e a divisão sexual do trabalho na construção das relações entre mulheres e homens. E nas abordagens sobre a “consubstancialidade das relações sociais”, imbricando as relações sociais de sexo, de classe e de raça (Kergoat, 2009 e 2014), a elaboração feminista busca responder aos novos desafios teóricos a partir dos anos 1990, trazidos, em grande parte, mas não apenas, pela exigência de abordar as relações raciais e responder aos debates relacionados à orientação sexual (Hirata, 2017).
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