Texto para as questões de 22 a 25Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de "menino diabo"; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce "por pirraça"; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a ume outro lado, e ele obedecia — algumas vezes gemendo —, mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um "Ai, nhonhô!", ao que eu retorquia: "Cala a boca, besta!". Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos.Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.22No excerto, considerado no contexto da obra a que pertence, o narradorA traz ao primeiro plano da narrativa o tema central do enredo desenvolvido ao longo das Memórias póstumas de Brás Cubas: a escravidão.B demonstra que a relação entre senhor e escravo, não obstante a desproporção entre ambos, poderia ser humana e benfazeja, não fossem certos proprietários de má índole, afeitos à crueldade.C justifica indiretamente a existência da escravidão, como mal necessário em país novo, egresso da colonização e desprovido de mão de obra abundante e apta.D naturaliza a existência da escravidão, isto é, não a denuncia nem questiona, mas a narrativa, objetivamente, dá a ver as mazelas dessa instituição, indicando-lhe o caráter deletério.E focaliza o tratamento dispensado aos escravos de dentro, isto é, utilizados nos serviços domésticos, em geral tratados com mais brutalidade do que os escravos do eito e da mineração.
Soluções para a tarefa
Olá!
O trecho retirado do livro Memórias póstumas de Brás Cubas, redigido por Machado de Assis, fala sobre como e por que o narrador adquiriu o apelido de "menino diabo" já aos cinco anos de idade.
No trecho podemos observar como a escravidão é naturalizada de modo que, na obra, não há uma crítica social ao regime escravocrata. Em uma das explicações de Brás Cubas sobre a origem do seu apelido, por exemplo, este cita o episódio em que deliberadamente "quebrou" a cabeça de uma escrava porque esta lhe negou um doce.
Isto também pode ser notado quando, ao longo do livro, após a libertação de Prudêncio, este compra um escravo e o chicoteia em um gesto simbólico de querer vingança e/ou passar sua dor aos outros.
Desta forma, a alternativa correta é a letra D.