Texto: Lancelot, o cavaleiro da charrete
No trecho transcrito, vemos a bravura de Lancelot durante o combate que trava com Meleagant, que havia sequestrado a rainha Guinevere. Ao vê-la na torre do castelo em que era prisioneira, o cavaleiro empenha-se ainda mais na luta.
[...]
Sem mais tardança, os dois combatentes fazem recuar toda gente. Ambos partem em grande galope e, a duas braçadas de distância, através dos escudos mergulham as lanças, tão de rijo que elas coriscam como tições. Com tal impulso os cavalos se entrevêm frente a frente que os dois cavaleiros embatem peito contra peito. Os escudos entrechocam-se e também os elmos; seu crepitar parece o pronto atroar de forte trovão. Não resta gamarra, nem cilha, estribos, rédeas nem espendas que não se espedacem. Não é grande vergonha para os dois cavaleiros se ambos tombam por terra, pois os arreios cederam. Mas de um só salto já estão de pé e lutam sem falar, mais ferozmente que dois javalis. Não perdem tempo em se desafiar. Com as espadas de aço entreaplicam fortes golpes, como gente que tem grande ódio. Mas não era possível que o cavaleiro que atravessara a ponte não fraquejasse com as mãos feridas. Vendo seus golpes menos certeiros, os que torciam por ele sentem grande receio. Temem que seja vencido. Já lhes parece que o cavaleiro leva a pior e Meleagant a melhor. Discutem entre si a respeito.
Dentro da torre estava uma donzela muito ajuizada, que diz consigo mesma que o cavaleiro não empreendeu a batalha por causa dessa gente miúda que ali veio. Jamais a teria empreendido se não fosse pela rainha. Pensa que se o cavaleiro soubesse que a rainha está à janela olhando e vendo, isso lhe daria força e ousadia. Se a rainha soubesse seu nome, de mui bom grado gritaria ao cavaleiro que olhasse para cima! Então, a donzela ajuizada vai até a rainha e lhe pergunta se sabe o nome do cavaleiro.
— Damizela, seu nome é Lancelot do Lago, pelo que sei.
— Deus, como tenho o coração jubiloso e rindo de contente! — torna a donzela.
Então ela avança e o chama tão alto que todo o povo a ouve em alta voz:
— Lancelot, volta-te e olha quem por ti se inquieta!
Quando Lancelot ouve chamar, não tarda a se voltar. Vira-se. Vê no alto a pessoa que, no mundo todo, mais desejava ver, sentada na bancada da janela. Desde o momento em que a avista, não se move mais nem desvia o rosto. Defendia-se por trás, porém Meleagant o acossava o mais que podia, mui jubiloso por pensar que o cavaleiro estava agora sem defesa. Os do país sentiam grande alegria, mas os exilados cativos estavam em tal pesar que em pé nem podiam parar. Muitos se deixavam cair por terra, desnorteados, ou de joelhos ou deitados. Havia grande alegria e também grande tristeza. Então novamente a donzela da janela bradou:
— Ah! Lancelot, por que tão loucamente combates, lançando para trás teus golpes, lutando de costas? Vira-te, que fiques de frente para cá e vejas sem cessar esta torre, pois é bom e bonito vê-la!
Lancelot considera grande vergonha e fealdade o que fez. De fato, bem sabe que por longo tempo levou a pior. Salta para trás e vira Meleagant, colocando-o à força entre ele próprio e a torre. Meleagant faz grandes esforços para voltar ao outro lado. Mas várias vezes Lancelot o rechaça e faz cambalear, sem lhe pedir consentimento. Em Lancelot crescem força e ousadia! Amor lhe traz grande valia. Jamais odiou alguém quanto esse com quem está lutando. Jamais Meleagant encontrou nem conheceu cavaleiro tão audaz. Jamais nenhum o prostrou assim. De bom grado se afasta, desvia, esquiva-se. Lancelot não o ameaça; mas atacando de ponta e de corte empurra-o para a torre, onde a rainha está à janela. Ela acendeu a chama em seu corpo, a rainha que muito o contempla. E essa chama torna-o tão ardente que ele persegue Meleagant e o leva por toda parte onde lhe apraz. Mau grado seu, Meleagant é conduzido como um cego ou um bobo com perna de pau.
O rei Bandemagus vê que seu filho está tão atingido que não mostra mais empenho nem defesa. Sente o coração opresso e toma-se de piedade. Se for possível, irá interferir. Para bem fazer, precisa suplicar à rainha. Então, lhe fala assim:
— Senhora, sempre vos amei muito, muito vos servi e honrei desde que aqui estais em meu castelo. Dai-me recompensa! Quero pedir-vos um dom que me deveríeis
conceder, ao menos por grande amizade. Bem vejo que esta batalha meu filho perde sem falha. Não vos dirijo súplica por lamentar isso, mas para que não o mate Lancelot, seu vencedor, que tem poder para tal. Essa morte não deveis querer, embora meu filho vos haja feito mal, a vós e a Lancelot também. Mas suplico, senhora, para agradar-me dizei a Lancelot que cesse de lhe bater. Assim poderíeis recompensar-me, se bem vos parecer.
Atividade:
1 - A reação de Lancelot ao ver a Rainha Guinevere revela seus sentimentos por ela. Que sentimentos são esses? Explique.
R =
2 - Que passagens do trecho sugerem que o sentimento de Lancelot seguem esse código de comportamento amoroso?
R =
Soluções para a tarefa
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4
Olá, tudo bem?
Questão número 1) Neste conto, que trata muito do amor cortês anteriormente existente, podemos afirmar que os valores presentes no amor cortês da idade média inda é amplamente cultivado na relação entre o cavaleiro e a dama que deve por ele ser regatada.
Questão número 2) Na língua portuguesa ,a indeterminação do sujeito e feita de dias formas em uma delas ,o verbo e flexionado na terceira pessoa do plural ,sem que se refira a nenhum termo expresso anteriormente. No caso, a parte do trecho que sugere o sentimento de Lancelot seria: '' Senhora, sempre vos amei muito, muito vos servi e honrei desde que aqui estais em meu castelo. Dai-me recompensa! Quero pedir-vos um dom que me deveríeis ''
Espero ter ajudado!
Bons Estudos!
claire2813:
muito obrigado :)
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