Texto II
O que significa ser feliz?
Feliz aniversário!", "Feliz Ano-Novo!", "Felicidades!". As saudações são nossos votos para aqueles que estimamos. E desejamos o mesmo para nós: ser feliz. Mas é possível ser feliz? Em que consiste a felicidade? Alguns, mais pessimistas, acham a felicidade um sonho impossível. Os problemas do cotidiano, os sofrimentos físicos e morais, a fome, a pobreza, a violência, o tédio são empecilhos severos. Mas será que mesmo essas pessoas não têm um fiapo de esperança de ter uma vida melhor? Para outros, como vemos na publicidade, a felicidade estaria nos momentos de consumo, longe do trabalho, com todo o conforto e prazer que o dinheiro pode lhes dar: um carro, um iate, roupas de marca, ausência de sofrimento, um doce "nada fazer"... Por isso tantos esperam as férias, a aposentadoria ou o prêmio da loteria.
Como explicitação dessa felicidade fantasiosa, em algumas revistas os famosos estampam apenas sorrisos, enquanto em outras é exposta com certa crueldade a intimidade de relações malsucedidas, brigas, internações para tratamento de dependência de drogas ou para mais uma cirurgia plástica, na luta contra o envelhecimento. Pelos consultórios médicos passam pessoas com estresse, a doença do nosso tempo. O enfrentamento de depressões desemboca na banalização do consumo de psicofármacos - as "pílulas da felicidade". Sob essa última perspectiva, a felicidade é vista pelo seu avesso: como a não dor, o não sofrimento, a não perda. De certo modo, representa a adequação das pessoas a comportamentos padronizados, ao que Nietzsche chamaria de "felicidade de rebanho". Ao contrário dessa busca cega, a felicidade encontra-se mais naquilo que o ser humano faz de si próprio e menos no que consegue alcançar com 'os bens materiais ou o sucesso. Não se veja aqui a acusação de que rico não pode ser feliz nem o elogio ao despojamento ou à pobreza. Queremos dizer que, no primeiro caso, apenas as posses não nos tornam felizes, porque a riqueza nunca é um bem em si, mas um meio para nos propiciar outras coisas. O que se percebe é que na busca da felicidade muitas vezes as pessoas dela se afastam. A esse respeito, diz Aristóteles: Conforme a ética aristotélica, conhecida como eudaimonismo, as ações humanas tendem para o bem e o bem supremo é a felicidade. E esta significa a realização da excelência (o melhor de si), que é a sua natureza de ser racional.
Questões sobre o texto II
1) O que é ser feliz de acordo com o texto?
2) Você é feliz? Justifique sua resposta.
3) O que você entende por felicidade de rebanho?
Soluções para a tarefa
Respostas:
I) De acordo com o texto, felicidade consiste na busca equivocada por coisas e situações que trazem bem-estar. Equivocada porque, segundo o texto, essas coisas e situações levam a outras coisas e situações, e assim por diante, numa busca incessante e sem sucesso por uma coisa seguida por outra. Ainda segundo o texto, também há a perspectiva de Aristóteles, quando a felicidade consiste na realização do melhor de si.
II) Não. Somos constantemente bombardeados por informações e, vivendo em sociedade, é impossível se sentir plenamente bem sendo que, ao se olhar pela janela ou na tela da TV, vemos pessoas em situação excelente, e ao voltarmos o olhar para dentro de casa, para a nossa realidade, nos deparamos com dificuldades de todo tipo. Quantas pessoas não estão neste momento passando fome por causa da pandemia? Enlutadas, porque morreram o pai, a mãe, a avó querida, o irmão? Indignadas com os mandos e desmandos daqueles que o povo escolheu acreditando em dias melhores? Com medo de como as coisas serão?
III) A meu ver, felicidade de rebanho é a submissão a que o povo se sujeita. Exemplos: achar que está tudo bem não ter comida na mesa, porque isso faz parte da vida. Achar que é digno ser acusado injustamente de algo, acreditando que a justiça prevalecerá (quantos e quantos já morreram esperando por uma justiça que nunca veio?). Aceitar as coisas como elas são, acreditando que no além túmulo haverá algum tipo de recompensa.