Texto 1
Águas sombrias
[...] O meu pai, Katini Nsambe, sorriu condescendente. Tinha outro entendimento. Os portugueses estavam, dizia ele, civilizando a nossa língua. Para além disso, não se podia pedir pureza a quem batiza as águas. Pois mesmo nós, os Vatxopi, vamos mudando de nome ao longo da vida. Sucedera comigo quando transitei de Layeluane para Imani. Para não falar do meu irmão Mwanatu, sobre o qual derramaram águas sagradas para o lavar dos seus três nomes anteriores. Três vezes o batizaram: na primeira nascença, com o “nome dos ossos”, que o ligava aos antepassados; com o “nome da circuncisão”, quando o sujeitaram aos ritos de iniciação; e com o “nome dos brancos”, conferido à entrada da escola.
E voltou o meu pai ao assunto: tratando‑se de um caudal de água, por que motivo nos custava tanto aceitar a vontade dos portugueses? Para o rio Inharrime, concluiu, haviam inventado dois nomes porque duas águas corriam num mesmo leito. Revezam‑se, por turnos, consoante as luzes: um rio diurno; outro noturno. E nunca fluíam juntos. [...]
Texto 2
Triste Fim de Policarpo Quaresma
IV DESASTROSAS
CONSEQUÊNCIAS DE UM REQUERIMENTO
[...] Era assim concebida a petição:
“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma – usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani, como língua oficial e nacional do povo brasileiro. O suplicante, deixando de parte os argumentos históricos que militam em favor de sua ideia, pede vênia para lembrar que a língua é a mais alta manifestação da inteligência de um povo, é a sua criação mais viva e original; e, portanto, a emancipação política do país requer como complemento e consequência a sua emancipação idiomática.
Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, língua originalíssima, aglutinante, é verdade, mas a que o polissintetismo dá múltiplas feições de riqueza, é a única capaz de traduzir as nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa natureza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais e cerebrais, por ser criação de povos que aqui viveram e ainda vivem, portanto possuidores da organização fisiológica e psicológica para que tendemos, evitando-se dessa forma as estéreis controvérsias gramaticais, oriundas de uma difícil adaptação de uma língua de outra região à nossa organização cerebral e ao nosso aparelho vocal – controvérsias que tanto empecem o progresso da nossa cultura literária, científica e filosófica. Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá encontrar meios para realizar semelhante medida e cônscio de que a Câmara e o Senado pesarão o seu alcance e utilidade
P. e E. deferimento”. [...]
Fonte Texto 1: COUTO, Mia. Águas sombrias. Disponível em: . Acesso em: 7 out. 2020. Fragmento.
Fonte Texto 2: BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. 17. ed. São Paulo: Ática, [s.d.]. Mantida a ortografia original do texto.
(P120852I7_SUP)
(P120852I7) Qual é a informação comum a esses textos?
A-A discussão dos gramáticos sobre a língua portuguesa.
B-A influência do português de Portugal na língua do colonizado.
C-A intervenção portuguesa nas diferentes religiões das colônias.
D-A organização política brasileira.
E-A origem da Constituição do Brasil.
Soluções para a tarefa
Respondido por
1
Letra B, A influência do português de Portugal na língua do colonizado.
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