Também já fui brasileiro
Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.
Carlos Drummond de Andrade
Nesses versos do poeta Carlos Drummond de Andrade, o sentimento nacionalista
A) é reafirmado por um tom marcado por eloquência patriótica.
B) é retratado de forma amarga e irônica.
C) é negado pela aproximação com o cotidiano da mesa dos bares.
D) dialoga com os poemas ufanistas da primeira geração romântica.
E) é supervalorizado por meio de elementos que compõem o cotidiano.
Soluções para a tarefa
letra b.
A resposta se justifica com base nos versos “e aprendi na mesa dos bares / que o nacionalismo é uma virtude./ Mas há uma hora em que os bares se fecham / e todas as virtudes se negam”, que revelam uma certa amargura (ou decepção) com o nacionalismo. Não se percebe um tom de eloquência patriótica típica do ufanismo nem supervalorização. O cotidiano da mesa dos bares é elemento de afirmação, e não de negação do patriotismo, no poema.
Letra b.
Pode-se notar com base na análise do poema que o patriotismo bem como os aspectos ufanistas e nacionais são apresentados de forma amarga, repleta de arrependimento e de desilusão, afirmando portanto que o nacionalismo exaltado já não faz mais parte de sua característica.
Isso pode ser observado em: “e aprendi na mesa dos bares / que o nacionalismo é uma virtude./ Mas há uma hora em que os bares se fecham / e todas as virtudes se negam”.