Sobre A FONTE de Marcel Duchamp : qual a intenção do artista? Por que chamou de FONTE?
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Em tom de paródia e questionamento, de “brincadeira séria”, como define Carolin Overhoff Ferreira, professora de história da arte da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Unifesp, a “Fonte” se insere em um contexto de grandes mudanças sociais e geopolíticas trazidas, principalmente na Europa, pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918). “Os artistas passam a questionar essa ideia de arte e de artista associados à nobreza, o conceito de obra de arte e de ‘artista-inventor’ [vindos] do Renascimento”, diz Overhoff Ferreira ao Nexo. Segundo essa concepção anterior ao século 20, a produção de uma obra e a figura do artista estavam ligados à virtuosidade da técnica, eliminada pela ideia do “ready-made”. “Não obstante, talvez por atender a uma necessidade da época, foi o ready-made que ditou o rumo predominante na arte internacional das cinco últimas décadas, marcada muitas vezes por manifestações em que a rebeldia se confunde com o niilismo e, particularmente, com a negação da própria arte” Ferreira Gullar Em sua coluna no jornal “Folha de S.Paulo” em 2007 Segundo a página do museu londrino Tate Modern, o conselho defendeu sua posição de rejeição à obra emitindo o posicionamento de que a “Fonte” “pode ser um objeto muito útil em seu lugar, mas seu lugar não é em uma exposição de arte e ele não é, de forma alguma, uma obra de arte”. Para a professora Overhoff Ferreira, a recepção (que ela define como conservadora e até mesmo “puritana”) do urinol de Duchamp nos EUA teve a ver com a forma como o país se relacionava com as vanguardas artísticas europeias e com a própria identidade cultural americana no início do século 20. No tom de paródia, diz Overhoff Ferreira, o artista estabelece um diálogo com as máquinas, com a guerra e o contexto industrial. Ela destaca a ambivalência da obra, comparável ao novo país que “quer se abrir para essas vanguardas mas faz isso através de um caminho já trilhado”. Nenhuma das 17 versões da obra expostas hoje em museus, como no Tate Modern, corresponde à original de 1917. Depois de fotografada no estúdio do fotógrafo americano Alfred Stieglitz, a obra “original” foi jogada fora, de acordo com o site especializado Phaidon. O que existe hoje são réplicas encomendadas pelo artista nos anos 1960. Isso se deve ao fato de que, no contexto do “ready-made”, o artista considerava que a ideia de autenticidade de uma obra de arte não fazia sentido: qualquer um poderia reproduzi-la com um urinol de louça semelhante.
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