Segundo Rubem Alves para a sociedade a ciência é ainda um mito. Quais os perigos decorrentes dessa mitificação da ciência?
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O pensador brasileiro Rubem Alves chama a atenção para o perigo de mitificar a ciência e os cientistas. Ele afirma:
O cientista virou um mito. E todo mito é perigoso, porque ele induz o comportamento e inibe o pensamento. Este é um dos resultados engraçados (e trágicos) da ciência.
"Se existe uma classe especializada em pensar de maneira correta (os cientistas), os indivíduos são liberados da obrigação de pensar e podem simplesmente fazer o que os cientistas mandam"
Ao fazer essa observação, Rubem Alves propõe algumas questões em relação ao conhecimento científico e ao poder que esse conhecimento adquiriu na sociedade contemporânea:
1- A superioridade: ao tratar das formas de conhecimento, que o senso comum se caracteriza por certa ausência de fundamentação, por uma aceitação acrítica ou pouco criteriosa daquilo que parece ser a verdade para as pessoas em geral.
A ciência, por sua vez, seria, ao contrário, a busca dessa fundamentação a procura rigorosa dos nexos e relações entre os fatos observáveis de forma a encontrar a razão de ser dos fenômenos estudados.
O trabalho científico envolve outros elementos, além da observação: o levantamento de hipóteses, experimentações, generalizações, até se constituir em teorias, que são abstrações razoáveis acerca do observado.
Apesar de suas diferenças, o problema da oposição extremada entre o senso comum e ciência se deu a partir do positivismo, que valorizou exageradamente o saber cientifico em detrimento de outras formas de conhecimento, como o mito, a religião, a arte e até a filosofia.
2- A correção; o estatuto do conhecimento científico. Será ele sempre o perfeito, o mais correto? A reflexão sobre o assunto indica que não. Certezas absolutas em relação à validade de nenhuma teoria científica.
Essa é uma das questões mais debatidas entre filósofos da ciência e cientistas. Muitos deles encaram a ciência como uma atividade continua e não como uma doutrina enrijecida pela pretensão de ser atingido um saber perfeito e absoluto.
Além disso, a complexidade dos fenômenos é uma interrogação sempre constante no campo do conhecimento científico
3- A neutralidade: a relação entre saber e poder. O conhecimento científico não é neutro, e o seu uso é menos neutro ainda. A produção científica insere-se no conjunto dos interesses das sociedades. E, frequentemente, é direcionada por verbas e financiamentos vinculados aos objetivos dos grupos que exercem poder social.