Se antes alguém lhe dissesse que era terrível esperar homens na tocaia para matá-los, ele não acreditaria, pois seu coração era inocente e livre de toda a maldade. [...]
Sua profissão era matar, Damião nem sabe mesmo como começou. O coronel manda, ele mata. Não sabe quantos já matou, Damião não sabe contar além de cinco, e ainda assim pelos dedos. Tampouco lhe interessa saber. Não tem ódio de ninguém, nunca fez mal a pessoa alguma. Pelo menos assim pensou até hoje. Por que hoje tem o coração pesado como se estivesse doente? É delicado na sua rudeza, se há um trabalhador enfermo na fazenda, logo aparece Damião para fazer companhia, para ensinar remédios de ervas, para chamar Jeremias, o feiticeiro. Por vezes os caixeiros-viajantes que param na casa-grande obrigam-no a contar algumas das mortes que ele praticou. Damião narra com voz calma, inocente de todo o mal. Para ele uma ordem de Sinhô Badaró é indiscutível. Se ele manda matar há que matar. Da mesma maneira que quando ele manda selar a sua mula preta para uma viagem há que selar a mula preta rapidamente. E demais, não há o perigo da cadeia porque cabra de Sinhô Badaró nunca foi preso. Sinhô sabe garantir os seus homens, trabalhar para ele é um prazer.
AMADO, J. Terras do sem fim. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
A obra Terras do sem fim, de 1943, apresenta-se como parte de uma abordagem recorrente na literatura brasileira da primeira metade do século XX. Essa abordagem
A
regionalista percebe-se na temática ufanista, típica da primeira fase, que se constitui como valorização da língua pelo uso de termos como “tocaia”, “cabra” e “Sinhô”.
B
nacionalista concretiza-se pelo uso de personagens históricos populares, como o coronel, o feiticeiro e os caixeiros-viajantes, recorrentes no imaginário brasileiro.
C
intimista confirma-se no dualismo entre a maldade e a bondade intrínsecas a Damião, expressa por uma narração em primeira pessoa, que permite o acompanhamento da construção do personagem.
D
crítica demonstra-se na alienação de Damião em virtude de um regime coronelista, que utiliza a rudeza e o desconhecimento dos trabalhadores como formas de controle, apoiando-se na impunidade que se revela ao fim do trecho.
E
irônica vislumbra-se pelo uso de construções como “seu coração era inocente e livre de toda maldade” e “sua profissão era matar” para referir-se ao mesmo personagem, demonstrando a contradição entre o que se narra e a realidade.
Soluções para a tarefa
Na obra "Terras do Sem Fim" usa como abordagem recorrente:
A) regionalista percebe-se na temática ufanista, típica da primeira fase, que se constitui como valorização da língua pelo uso de termos como “tocaia”, “cabra” e “Sinhô”.
Ao usar o regionalismo é uma forma de usar o ufanismo (era uma forma de autoenaltecer um grupo através dos seus fatos e feitos), é um método de escrita muito pobre pois depende da auto afirmação do autor, e nem sempre é o do jeito que eles falam que é.
Já o regionalismo em si, é usar termos da região, escrevendo da forma como o povo fala naquela região, sobre assuntos que as pessoas da região gostam.
Muitos textos e livros de autores nordestinos usam do regionalismo para escrever seus texto, como é o caso de Ariano Suassuna em obras como o Auto da Compadecida.
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