Biologia, perguntado por netoguigui48, 11 meses atrás

Resumo sobre Senso comum e preconceito

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Respondido por Glossiebaby
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Resposta:

Como se sabe a época é propícia às tolices. Seja pelas temperaturas, seja pela falta de assunto, a verdade é que o verão é a estação por excelência para a banalidade e o preconceito emergirem quais cabeças de banhistas no azul do mar.A começar logo pela chamada convenção do bom tempo. Traduz-se esta por dia em que brilha o sol e o termómetro sobe, ser inevitavelmente anunciado por apresentadores televisivos como dia de bom tempo. Faz sentido que assim seja na Grã-Bretanha, referência inevitável quando se fala de jornalismo, mas daí a importar dessas enevoadas paragens os conceitos de bom ou mau tempo vai uma grande distância. Ou devia ir porque, neste país tão próximo de Marrocos, é com um esfuziante "amanhã vamos ter bom tempo" que se anuncia o inferno de 40º que espera no dia seguinte todos os portugueses que não estão a dois passos do mar.Infelizmente não acaba aqui o reino do preconceito mascarado de inamovível senso comum. Dada a falta de acontecimentos nas agendas das redacções esta é a época ideal para fazer sair do arquivo os temas de sociedade. E poucos assuntos se prestam mais à produção de verdades absolutas do que aqueles que respeitam à família. Veja-se a título de exemplo, o tom assertivo-paternalista que muitos jornalistas afivelam quando entrevistam as jovens mães ou quando se referem a elas. Por mais bizarro que possa parecer enquanto de modo algum é suposto que um entrevistador se ponha a opinar sobre as implicações morais e sociais do crime ao dirigir-se a uma jovem que tenha assaltado uma bomba de gasolina ou que tenha sofrido uma overdose, aceita-se como óbvio que o mesmo jornalista ao entrevistar mães adolescentes não só lhes pode perguntar tudo como tecer os mais diversos comentários. Acresce que não só se abordam da mesma forma as implicações duma gravidez aos 13 anos como aos 17 ou aos 18, como dificilmente a abordagem vai além da recolha do depoimento e do tecer de considerandos anunciando o apocalipse para aquelas gravidezes. Por exemplo, raramente se vê serem referidas as consequências do actual desfasamento entre a idade biológica e social para se ser mãe. Ou em que medida o protelar da idade da maternidade não é muitas vezes uma forma de reacção à exploração a que são sujeitas as jovens mulheres no mercado de trabalho, sobretudo na área dos serviços.Longe de mim dizer que a vida das jovens mulheres seria mais ou menos interessante caso tivessem filhos mas do que tenho a certeza é que, para quem as emprega, é muito interessante que as jovens mulheres acreditem que estão a fazer carreira exercendo as mais desgastantes actividades, sem tempo sequer para se questionarem sobre a diferença de estatuto e rendimentos entre elas - que trabalham geralmente a recibo verde - e os seus colegas mais velhos. Mas como neste reino do senso comum, a gravidez tardia é invariavelmente apresentada como uma vitória, não é considerado pertinente questionar as implicações do adiamento da idade da maternidade, quer para as próprias mulheres quer para os seus filhos. Significativamente os mesmos jornalistas que acham natural perguntar a uma jovem de 17 anos se acha que vai ser boa mãe por ser tão nova, são incapazes de perguntar a uma mulher de 45 ou mais anos que vai ser mãe pela primeira vez, se ela já se interrogou sobre a circunstância do seu filho aos vinte e pouco anos ter de se confrontar com o facto de ter uma mãe idosa.A estas abordagens da maternidade na adolescência vão juntar-se, dentro de semanas, as inevitáveis reportagens sobre o regresso às aulas e o primeiro dia de infantário, assuntos que invariavelmente remetem para um tema ainda mais propício ao consenso do que a gravidez na adolescência. Falo naturalmente do pouco tempo que os pais actualmente estão com os filhos. Nestas reportagens até se dão conselhos para que pais, mães e os respectivos filhos ultrapassem esse trauma. Subjacente a este discurso está sempre a ideia de que até meados do século XX a humanidade era composta por ociosos que aí pelos trinta anos tinham dois ou mais filhos para quem viviam em dedicação exclusiva.

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