Resumo do Livro: Televisão a vida pelo vídeo 11° edição
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Resposta:
RESENHA
“Televisão: a vida pelo vídeo”
Jacir Zanatta*
Ciro: "Não se gosta, não se ama a pessoa, mas o modelo e, por tabela, a pessoa que encaixa nele”
Mais do que apenas uma crítica a televisão, o livro do professor Ciro Marcondes Filho intitulado de “Televisão: a vida pelo vídeo” (Editora Moderna) é um alerta à forma de vida que estamos levando. As verdades aqui são ditas de forma simples, clara e direta. Percebemos nesta obra que, diferente do contato com vizinhos, parentes ou amigos, a relação das pessoas com a TV é mais fácil e mais cômoda. Para o autor, a televisão é uma ponte entre o homem e seu imaginário.
De acordo com o autor, a TV não atende nossos desejos e vontades. Com isso temos a emoção do prazer e não o prazer, a sensação de paz e não a paz. Marcondes Filho alerta para o fato de que “a modernidade criou essa falsa realidade: entope as pessoas com objetos e mercadorias, dando-lhes a impressão de viver e satisfazer seus desejos e vontades, porém elas não realizam efetivamente nenhum desses desejos”. Assim, vemos que o fascínio que a televisão exerce sobre as pessoas está na forma espetacular com que transmite as coisas e não necessariamente no que realmente ela transmite.
Com isso, podemos afirmar que a indústria do desejo criada pela televisão, não reprime os desejos; ao contrário, estimula, ativa e os desenvolve. O livro nos leva a uma reflexão sobre nossa forma de viver, sentir e ser com os demais no planeta.
Uma leitura que nos faz perceber que a grande maioria das pessoas não vive as emoções, as frustrações, as alegrias, os entusiasmos em sua própria vida ou em sua pele. Com a televisão, as pessoas acabam vivendo as emoções do outro e não o próprio sentimento. Concretamente, ninguém experimentou nada. Assistimos a emoção em vez de vivê-las, imaginamos gostos e sabores em vez de experimentá-los. Sem sombra de dúvidas estamos tendo uma vivência de segunda mão proporcionada pela mídia televisiva.
Ciro Marcondes Filho (1988) mostra que a emoção que as pessoas sentem durante a novela ou mesmo durante um filme, não é real. Assim, é fácil perceber que a televisão permite uma vivência, uma prática de emoções, de sentimentos, de alegrias e de tristezas, de sensações sexuais que a vida real não possibilita. Cansado, exaurido e sugado pelo trabalho enfadonho e burocrático que somos obrigados a desenvolver todos os dias, o homem moderno encontra na TV o descanso, a paz e o divertimento e a alegria que não tem, fazendo dela uma forma de alimento espiritual e em alguns momentos a própria espiritualidade.
É muito triste constatar que enquanto homens e mulheres praticam cada vez menos qualquer forma de contato físico, se retraem cada vez mais a uma aproximação sexual e sublimam seus desejos concretos, transferindo-os para os dramas das telenovelas e dos filmes, mais os objetos, as roupas, os cigarros ou os automóveis sexualizam-se, tornando-se desejáveis e cobiçados. Assim, o feminino e, nos últimos anos até mesmo o masculino, aos poucos vão se tornando algo que deve ser usado e mantido como objeto de prestígio e decoração. É fácil percebermos que a televisão trabalha com ações e cenas que sejam facilmente interpretadas e rapidamente decodificadas pelo telespectador. O resultado disso, é um conjunto de cenas que trabalham na incitação forçada de emoções, prazer, envolvimento.
Como se a televisão por si só não conseguisse fazer o estrago necessário, temos ainda a publicidade que trabalha através da promoção de puras aparências: não se compram mercadorias por suas qualidades inerentes nem pelo seu valor de uso, mas pela imagem que o produto veicula no ambiente de vida do consumidor. Assim, temos cada dia mais um mundo narcísico onde cada um constrói e reconstrói dia a dia a imagem que tem de si próprio. A publicidade é um espelho, onde a imagem do lado fictício sempre será muito mais bela que a imagem real e quem sabe seja por isso que as pessoas consumam tanto. Para fugir da própria realidade. Assim, chegamos ao ponto onde percebemos que nada mais é obsceno, tudo está em cena e por isso mesmo tudo é mostrável...
Ciro Marcondes Filho defende que “no fundo, a busca amorosa, a construção do tipo ideal de companheiro e o padrão estético não passam de ajustes a um modelo mental, abstrato e imposto pela cultura. Não se gosta, não se ama a pessoa, mas o modelo e, por tabela, a pessoa que encaixa nele”. Vemos que a televisão possibilita que as pessoas se satisfaçam a si mesmas. Não visito mais meu amigo, mas a televisão deste meu amigo. Ficamos horas assistindo TV juntos sem, no entanto, saber se realmente estamos juntos. No final descobrimos por meio de uma triste constatação que a maior lição que a televisão tem nos deixado estes anos todos está no fato de que aprendemos com ela, a amar as coisas e objetos e a conseqüência disso é que hoje também aprendemos a usar as pessoas.
*Jacir Alfonso Zannata é professor, psicólogo e jornalista; e nos envia suas resenhas de Campo Grande (MS), onde vive