Resumo do livro estorvo
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É um belo livro, esse Estorvo de Chico Buarque. Como o título sugere, está longe de ser uma leitura fácil. Muito bem escrito, palavra por palavra, exige uma atenção constante do leitor; tem umas cento e cinqüenta páginas que parecem mais e, diga-se a verdade, corre o risco de aborrecer os desprevenidos.
Começo pelos elogios, falarei em seguida dos defeitos, concluirei pelos problemas que o livro indica.
O que impressiona, antes de tudo, é a extrema precisão da linguagem. Não há descrição que não seja exata, perfeita, acabada em si mesma; para isto não basta "escrever bem"; é preciso uma acuidade intelectual, um poder de observação, que Chico Buarque revela ter à maravilha.
Alguns exemplos. De noite, no sítio, o narrador ouve música: esta ocupa todos os espaços, "com a substância que a música no escuro tem". Ou está na praia, e vê o mar "vomitando o mar". Uma vaca pisca devagarinho: "sua pálpebra de quando em quando lambe o olho". Esse uso impróprio e feliz dos verbos ("vomita", "lambe"), salvo engano, é uma figura de linguagem que atende pelo nome de catacrese, e aparece em quase todos os pontos do livro, com efeitos excelentes.
Outra coisa especialmente bem-sucedida é o emprego de termos coloquiais. De certo modo, a coloquialidade é algo a ser reinventado de tempos em tempos; exige a atenção para novas formas de falar, para palavras que, inconscientemente, o autor expulsa de seu vocabulário quando escreve. Chico Buarque não. Assim, uma menina está ouvindo seu walkman e, de repente, diz o narrador, "aperta o stop". Veja-se a exatidão desta cena: "um grupo de moças que saem da dança se abanando, soprando o decote de suas blusas pretas". Neste caso, é tanto a visão límpida das coisas - o realismo, afinal - quanto a precisão do vocabulário que nos revela a presença de um escritor que conhece seu ofício.
Passemos aos defeitos. Alcion Leite Neto e Roberto Ventura, na "Ilustrada" da outra semana, detectaram-nos com agudez. Ventura diz que "falta algo no enredo e fica uma sensação de vazio no final da leitura". Leite Neto aponta um enredo policial "artificioso". É verdade. A história, o "romance" não decolam, e Estorvo vale mais pelo que descreve do que pelo que narra.
Mas aqui entramos nos problemas que o livro levanta. Antes, é preciso entender melhor o que ele significa. E a análise exigirá alguma paciência do leitor.
Ajuda pensar nas velhas músicas de Chico Buarque. Em meados dos anos 60 - depois do golpe de 64, desse desastre para a civilização brasileira -, Chico Buarque, vindo de uma elite de quatro costados, rapaz finíssimo, surge como compositor popular. Mais do que qualquer outro, representa uma utopia que o golpe acabava de destruir: o da identidade "cultural" entre uma classe dominante esclarecida, honesta, bem-educada, e um "povo" rico de suas próprias sutilezas e tradições, fiel a si mesmo. Chico Buarque reatou com Noel Rosa, com o samba; também com a marcha-rancho, a modinha, a valsa brasileira; com o Brasil, enfim, no que tem ou no que tinha de mais delicado, de mais simples, de mais digno e idealizadamente "popular".
laizapoderosa1p9pcl0:
Muito obrigado me ajudou muito ❤️❤️❤️
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