resenha do livro Diários de raqqa
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Explicação:
Diários de Raqqa é o debut de um autor desconhecido, que usa de um pseudônimo para nos contar a sua história verdadeira, são os registros mais brutais de seu próprio diário, dos momentos angustiantes quando o Estado Islâmico / ISIS adentrou pela primeira vez em sua cidade, antes pacata e desconhecida, mas que logo tornou-se famosa no mundo todo como Raqqa, a "capital" do infame califado.
O autor, que nos escreve usando o nome de Samer, nos narra o dia a dia e as mudanças trazidas em sua vida e na vida das pessoas próximas à ele quando os terroristas declararam como deles aquele território. O que começou como uma revolução síria logo se viu manchado pela imagem cruel de um grupo que não distinguia idades, religiões ou caráter, mas tão apenas se focou em semear o caos e a destruição, usando como desculpa a religião do Islã. Samer nos conta em palavras breves porém cruas e sinceras como foi perder as pessoas próximas à ele, como foi testemunhar as brutais execuções orquestradas pelo grupo e como era realmente a percepção que as pessoas de Raqqa tinham do grupo e do mundo exterior que naquele momento bombardeava a cidade quase que diariamente.
Eu considero esses relatos, qualquer relato sobre a Guerra na Síria, como leitura que deveria ser estimulada no meio literário. Eu vejo as pessoas lerem e relerem sobre a Segunda Guerra, e em muitas resenhas as pessoas dizem o quanto "gostam" dos livros ambientados naquele período. A Guerra da Síria é um assunto de vital importância, não apenas para que alguém goste ou desgoste, mas porque é um conflito atual, que de uma maneira ou outra reflete na minha vida, na tua e na de milhões de pessoas.
A narrativa de "Samer" é muito simples, praticamente básica mesmo. O autor não fica poetizando e nem tenta polemizar, ele apenas nos narra a sua verdade, nua e crua. O importante aqui nesse livro não é nem analisar a narrativa de Samer, mas a veracidade de seu testemunho. Desde que começamos a ler as primeiras linhas dessas passagens escritas por esse jovem sírio, somos praticamente arrebatados para a sua realidade, porque é justamente através de sua simplicidade narrativa que entendemos o quanto tudo aquilo é real, e essa noção de estar lendo e revivendo a vida daquele garoto, é o que nos permite amar as páginas desse livro, pois o leitor entende de uma maneira quase que instantânea a dor e a perda que ocorreu nas vidas de "Samer" e de seus amigos.
O que ele nos conta é algo que supera qualquer livro de ficção ou suspense, é um relato tão verídico que fiquei me perguntando Como e Porquê o ser humano é capaz de agir com tamanha brutalidade. E eu acho que é justamente aí, à partir de testemunhos como este, que podemos compreender e "sentir na pele" a luta que vem enfrentando essas pessoas durante 7 longos anos (tempo aliás maior do que foi a Segunda Guerra Mundial).
Diários de Raqqa é um livro necessário e muito importante. É o retrato de uma realidade que vem afetando não apenas estes jovens sírios, pois o drama deles já tem reflexos fortes na Europa, nos EUA e até mesmo na América Latina, com o fluxo constante de imigração e refugiados. É um livro curto, que se lê em no máximo 2 dias, porém o impacto causado no leitor perdura até muito tempo depois da leitura.
As ilustrações são perfeitas para o livro, pois parecem mesmo parte das lembranças e rascunhos do próprio Samer e, mais uma vez, através da simplicidade de cada desenho podemos vislumbrar ainda mais aquele entorno difícil e inesperado no qual Samer e outros foram lançados.
Foi uma sorte encontrar este livro em português e o trabalho da editora ficou muito bom, reproduzindo com fidelidade o livro original. A capa, apesar de simples também, retrata com exatidão o abandono e o toque de aflição que acompanham a narrativa do autor.
O livro "Diários de Raqqa", escrito por Samer, conta a história dele mesmo, e este se apresenta como um jovem de 24 anos que nasceu na Síria e agora vive em Raqqa, cidade que está sob o domínio do Estado Islâmico.
Jurado de morte
Por ter feito este diário, Samer foi jurado de morte pelo Estado Islâmico, que não aprovou a realização do mesmo. O Estado Islãmico controla a cidade e região em que Samer vive, e é sobre o modo de vida de lá que Samer fala, dissertando sobre as restrições de liberdade e vários outros aspectos.
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