Resenha do filme pantera negra
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O início é digno de um conto de fadas: um pai conta a seu filho a história de sua terra natal, Wakanda, onde cinco tribos viviam em discórdia até se submeterem a um forte guerreiro que possuía os poderes da Pantera Negra, considerada uma espécie de divindade. E assim, em uma das animações mais bonitas que já vi, o novo filme da Marvel dá partida a uma produção de fotografia linda, cheia de cores e paisagens vivíssimas. Pantera Negra conta a história de um herói africano que vivia em um país isolado, rodeado por tecnologia avançada. Todavia, após a aparição de um vilão carregado de mágoas e cicatrizes – em todos os sentidos – a segurança da nação é ameaçada. Mais do que um filme de super-herói, Pantera Negra discute temas importantes que, em geral, ficam reclusos a debates entre os afetados e negligenciados pela sociedade; como o racismo estrutural velado, a emancipação feminina e a ajuda ao outro, colocando sua exposição em jogo. Ryan Coogler dirigiu o filme de forma que tudo isso fosse exibido de forma leve e natural. Os Panteras Negras dos anos 60 constituíam o partido homônimo que, em tempos de segregação racial nos Estados Unidos, lutavam por seus direitos civis sem justificarem seus meios, leia-se a partir do uso da violência também, inclusive como forma de proteção a atuação agressiva e invasiva da polícia – que, quase 60 anos depois, continua matando mais negros do que brancos. E não é só nos EUA não: no Brasil, a cada 100 mortos, 71 são negros, de acordo com o Atlas da Violência de 2017. Essa herança maldita é traço presente no antagonista do filme, que clamava vingança pelos seus ancestrais e por tudo que os negros sofreram desde o período colonial. “Jogue-me no oceano com meus antepassados que pularam dos navios, porque sabiam que a morte era melhor do que a escravidão.” Apesar de contraditório, devido a forte conotação política dos militantes, o filme aborda outras soluções para esses conflitos. De acordo com Wes Machado, estudante de teatro e coordenador geral do Diretório Acadêmico Pagu de Artes da Universidade Anhembi Morumbi, o antagonista, representado por Michael B. Jordan, é na verdade um mero reflexo do sistema; um homem que carrega uma herança histórica e assume uma posição de revolta.