relaçao dos trabalhos de Sebastião Salgado e Walter Benjamin
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Resposta:
Resumo
A crítica especializada ressalta os aspectos fiéis, “realistas”, da desoladora condição
do homem no século XX reveladas nas imagens produzidas por Sebastião Salgado. Tais
imagens dariam a ver de modo inequívoco a exclusão dos desafortunados e dos
miseráveis das diversas sociedades modernas, questionando as fronteiras hipócritas que
colocam a salvo uma ordem burguesa que procura sobreviver a duras penas. Busco
aqui aprofundar a crítica ao seu trabalho tentando colher elementos para melhor
formular e desenvolver questões que parecem centrais em sua obra: a tradição à qual o
artista é tributário, as complexas relações entre forma e conteúdo nas fotografias e o
processo de estetização das imagens que produz.
Palavras-chave: Fotografia, Sebastião Salgado, Pós-Modernismo.
“Não existem, nas vozes que escutamos, ecos de vozes que
emudeceram?”1
Todos sabemos que a palavra de ordem neo-liberal continua sendo a
modernização. As tentativas de desmascarar seus interesses e contradições são
comumente atacadas ou mal-compreendidas, mesmo pela crítica de esquerda, sobretudo
no momento do pós-modernismo, com seus golpes fatais na insistência em destruir
tentativas de articulação de perspectivas históricas abrangentes, racionais e totalizantes2
.
Até onde percebo, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado reativa determinadas formas
pertencentes a uma tradição para assim atualizar a discussão sobre o “estatuto do
engano”: o mito da modernidade, suas transmudações e suas conseqüências sociais mais
nefastas, agora em termos globais. Ele tenta articular relações entre, por um lado, o
processo de modernização pelo qual são obrigados a passar os excluídos (além dos que,
graças a esse mesmo processo, passaram a sê-lo) e, por outro, o preço cobrado em
material humano pelo processo que os exclui, e que neste momento é comumente
percebido como um movimento histórico irreversível.
1 Cf. BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas – magia e técnica, arte e política. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1993, p. 223.
2 No caso brasileiro, o mapeamento do desmonte de uma situação política e artística, favorável não apenas
ao florescimento de uma crítica de esquerda conseqüente a respeito do processo de modernização, mas
também à formação de um público mais informado e politizado, fora feito já em 1969 no artigo Cultura e
política, 1964-1968 alguns esquemas, de Roberto Schwarz. In SCHWARZ, Roberto. O pai de família e
outros estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. As idéias nele contidas foram recentemente revisitadas
por Luiz Renato Martins para “examinar o desuso da reflexão histórica nos dias de hoje [na produção
artística contemporânea] e suas implicações, em vários níveis, na sua versão brasileira [que] surge como
traço globalizado.” Cf. MARTINS, Luiz Renato. A situação da arte e o “pensamento único”. In Margem
Esquerda – ensaios marxistas 5. São Paulo: Boitempo Editorial, maio de 2005, p. 94.