QUESTÃO III (1,0 pt)
CARTA A UM JOVEM QUE FOI ASSALTADO
“Foste assaltado. Bem, a primeira coisa a dizer é que isso não chega a ser um fato excepcional. Excepcional é ganhar um bom salário, acertar a loto: mas ser assaltado é uma experiência que faz parte do cotidiano de qualquer cidadão brasileiro. Os assaltantes são democráticos: não discriminam idade, nem sexo, nem cor, nem mesmo classe social – grande parte das vítimas é das vilas populares.
É claro que na hora não pensaste nisso. Ficaste chocado com a fria brutalidade com que o delinquente te ordenou que lhe entregasse a bicicleta (podia ser o tênis, a mochila, qualquer coisa). Entregaste e fizeste bem: outros pagaram com a vida a impaciência, a coragem ou até mesmo o medo – não poucos foram baleados pelas costas.
Indignação foi o sentimento que te assaltou depois. Afinal, era o fruto do trabalho que o homem estava levando. Não fruto do teu trabalho – até poderia ser – mas o fruto do trabalho do teu pai, o que talvez te doeu mais.
Ficaste imaginando o homem passando a bicicleta para o receptador, os dois satisfeitos com o bom negócio realizado. É possível que o assaltante tenha dito, nunca ganhei dinheiro tão fácil. E, pensando nisso, a amargura te invade o coração. Onde está o exército? Por que não prendem essa gente?
Deixa-me dizer-te, antes de mais nada, que a tua indignação é absolutamente justa. Não há nada que justifique o crime, nem mesmo a pobreza.
Há muito pobre que trabalha, que luta por salários maiores, que faz o que pode para melhorar a sua vida e a vida de sua família – sem recorrer ao roubo ou ao assalto. Mas tudo que eles levam, os ladrões e assaltantes, são coisas materiais. E enquanto estiverem levando coisas materiais, o prejuízo, ainda que grande, será só material.
Mas não deves deixar que te levem o mais importante. E o mais importante é a tua capacidade de pensar, de entender, de raciocinar. Sim, é preciso se proteger contra os criminosos, mas não é preciso viver sob a égide do medo.
Deve-se botar trancas e alarmes nas portas, não em nossa mente. Deve-se repudiar o que fazem os bandidos, mas deve-se evitar o banditismo.
Eles te roubaram. É muito ruim, isso. Mas que te roubem só aquilo que podes substituir. Que não te roubem o coração.”
SCLIAR, Moacyr. Moacyr Scliar (seleção e prefácio de Luís Augusto Fischer). São Paulo: Global, 2004. p. 267-268. (Coleção Melhores Crônicas)
Predominam, na crônica, as seguintes funções da linguagem:
A- conativa e emotiva, uma vez que o remetente da carta, além de centralizar o alvo da comunicação no destinatário, externa um ponto de vista particular sobre o assunto tratado.
B- conativa e referencial, uma vez que o remetente da carta, além de centralizar o alvo da comunicação no destinatário, expõe, de forma imparcial, informações verdadeiras sobre a realidade.
C- emotiva e metalinguística, uma vez que o remetente da carta, além de externar um ponto de vista particular sobre o assunto tratado, estabelece diferenciações semânticas entre os tipos de roubo.
D- emotiva e referencial, uma vez que o remetente da carta, além de externar um ponto de vista particular sobre o assunto tratado, sustenta esse ponto de vista em dados consistentes sobre a realidade.
Soluções para a tarefa
Na minha opinião está entre a B e a C. Análise qual seria a mais formal.
ESPERO TER AJUDADO VC.
As funções linguísticas que compuseram essa crônica foram as linguagens conotativa e emotiva, há sentidos figurados em determinadas palavras, além da presença do ponto de vista particular do autor (Alternativa A)
" conativa e emotiva, uma vez que o remetente da carta, além de centralizar o alvo da comunicação no destinatário, externa um ponto de vista particular sobre o assunto tratado"
A linguagem conotativa inserida no texto emprega sentido subjetivos as palavras, a título de exemplo:
"Ficaste chocado com a fria brutalidade"
Não quer dizer que o homem estar frio e sim que o ladrão não teve compaixão, afeto ou simpatia nem modos educados diante da situação.
A linguagem emotiva consiste no emprego das emoções em uma dissertação, onde o autor se posiciona expressando seu sentimentos.
" – até poderia ser "
"Não há nada que justifique o crime, nem mesmo a pobreza."
Essas frases, contextualizadas, referem-se ao ponto de vista do autor diante a situação.
Para mais informações, acesse:
Aplicações da linguagem conotativa: https://brainly.com.br/tarefa/30097393