Quem é o narrador do texto, ou seja, quem está contando essa história? O que se pode dizer sobre ele depois de ler esse trecho?
O chamado do meu povo
Quanto tempo faz? Não muito. Uns dois anos. Porém me lembro como se fosse hoje. Era uma linda moça índia, de pele mais clara, talvez por falta do Sol intenso das tabas. Longos cabelos lisos, escorridos pelas costas, que o vento, provocado pela velocidade embora mínima do veículo, jogava para os lados, para a frente, cobrindo seus brilhantes olhos negros, de onde ela os tirava e eles tornavam a esvoaçar, livres, sem nenhuma presilha.
Dirigíamo-nos para Atalaia do Norte, onde eu ia trabalhar num posto. Estávamos a uns cem quilômetros do último posto; já havíamos pernoitado no caminho, pois o carro quebrara duas vezes. Num atalho cheio de buracos e galhos nem sei como ele conseguia rodar.
No carro, além do motorista Joaquim e da moça índia, viajávamos eu e dois índios auxiliares, Antônio e Manuel, mais três outros que voltavam de uma permanência no hospital.
Na tribo deles grassara uma epidemia de sarampo. Ao todo, eram cinco hospitalizados, dois mortos que lá ficaram e os três que regressavam. Vinham enfraquecidos e tristes por terem deixado enterrados no cemitério da Missão os companheiros. Queriam, a todo custo, trazê-los para serem enterrados na tribo. Foi impossível atendê-los. Já ao entardecer, com o calor de quarenta graus que fazia, os corpos começaram a cheirar, a se decompor.
Sentia-me mal vendo a decadência daqueles indígenas, que foram até o posto em busca de remédios vestindo trapos, desgrenhados, um bando maltrapilho tossindo, escarrando no chão.
Sarampo, doença de branco contra a qual não tinham resistência e que os pajés não conseguiam curar com os remédios da mata. Para doença de branco, remédio de branco.
Amargurado, pensava no viver deles na mata, livres, sem compromisso com roupas, relógios. Os radinhos de pilha que alguns traziam e sintonizavam em estações diferentes faziam uma grande balbúrdia.
Como eu me sentara no último banco, notei certo nervosismo na moça índia, que estava na frente. Era a única diferente do grupo indígena. Vestia calças compridas, blusa limpa. Trazia ao colo uma maleta. Lia, isto é, no começo da viagem vinha entretida com um livro. Procurei ver o título, porém nada consegui além de visualizar, na capa, um índio desenhado.
Depois de alguns quilômetros, já manhã, ela o colocou na maleta e se limitou a olhar com atenção a paisagem.
Às vezes, voltava a cabeça e examinava o trecho que íamos percorrendo, como se ele já fosse conhecido e lhe trouxesse recordações. Notei isso depois de termos atravessado um regato, onde o mato vizinho era mais luxuriante.
Aos poucos, com dificuldade, o veículo, cacareco velho, vencia os quilômetros resfolegando muito. "Meio asmático", pensei.
Eu ia pra lá de Atalaia do Norte, cinco horas de barco. Os outros ficariam em Atalaia, onde eu os entregaria à Missão.
Continuava, com a claridade da manhã, já quente e linda, observando a moça, e ela não me notara, porque, sentada na frente, estava entregue aos seus pensamentos.
Gostaria de saber alguma coisa a seu respeito; de onde vinha, para onde ia, o que pensava. Principalmente, seu destino me preocupava. Aparentava uns dezoito anos, mais ou menos, isolada no banco sem comunicar-se com ninguém... Educada, isso se via nos seus modos de "civilizada branca".
Pensei: "Talvez vá trabalhar no colégio da Missão, onde as irmãs recebem moças, preparando-as para exercer a profissão de enfermeira". Essas irmãs formavam uma pequena comunidade vivendo como os indígenas em palhoças erguidas por elas mesmas, tomando banho num regato e comendo peixes e raízes que plantavam. Sua única finalidade era dar ao índio outra visão do branco. A visão daquilo que o branco devia ser em relação ao índio.
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Resposta:
O narrador é o medico
Explicação:
Que ele se dirigi até a cidade de Atalaia do Norte
dnd
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