“(...) quando chegou a vez da invenção da escrita, exclamou Thoth “Eis, oh Rei, uma arte que tornará os egípcios mais sábios e os ajudará a fortalecer a memória, pois com a escrita descobri o remédio para a memória. - Oh, Thoth, mestre incomparável, uma coisa é inventar uma arte, outra julgar os benefícios ou prejuízos que dela advirão para os outros! Tu, neste momento e como inventor da escrita esperas dela, e com o entusiasmo, todo o contrário do que ela pode a vir fazer! Ela tornará os homens mais esquecidos, pois que, sabendo escrever, deixarão de exercitar a memória, confiando apenas nas escrituras, e só se lembrarão de um assunto por força de motivos exteriores, por meio de sinais, e não dos assuntos em si mesmos. Por isso, não inventaste um remédio para a memória, mas sim para a rememoração.”
(J. C. de Souza, J. Paleikat e J. C. Costa. São Paulo, Abril Cultural, 1979. Coleção Os Pensadores. PLATÃO. Pp. 120-121)
Enunciado:
Assinale a alternativa que aponta corretamente o modelo de conhecimento que é criticado por Platão nesse trecho e a teoria do conhecimento defendida por Platão.
Alternativas:
A - Modelo conceptualista e experimentação
B - Sistema experimental e dogmatismo.
C - Esquema religioso e a teoria dos conflitos.
D - Tradição mitológica e o racionalismo prático.
E - Padrão tradicional escrito e idealismo.
#simuladoENEM2021
Soluções para a tarefa
A letra E é verdadeira, uma vez que Platão aponta o modelo tradicional, que ele associa aos costumes egípcios, mas que também poderia ser visto em Atenas pela crescente dependência sócio-política nos modelos de leis escritas, como um mau amigo da memória (e um obstáculo para o conhecimento verdadeiro). Além disso, o modelo próprio desenvolvido por Platão pode ser adequadamente caracterizado como idealista.
A é falsa, já que se trata aqui de uma crítica à dependência dos pensadores contemporâneos a Platão aos textos escritos, e não da sua confiança nos conceitos puros. Ademais, o modelo epistemológico de Platão é idealista, e não experimental, ou seja, não toma por base da explicação do mundo pela experiência.
B é falsa, já que a crítica nesse trecho não é feita contra o modelo experimental (que, apesar disso, era também criticado por Platão), e o dogmatismo é, para Platão, o oposto do conhecimento racional.
C é falsa, pois se trata aqui não de um modelo religioso necessariamente, mas de um modelo escrito tradicional. A teoria dos conflitos também não se associa às ideias de Platão, e sim aos fragmentos de Heráclito, pensador com o qual Platão tinha algumas discordâncias importantes, como a ideia da natureza como mudança constante, e não como permanência.
D é falsa. Apesar de haver aqui a análise de um mito, a crítica não é exatamente contra o modelo mitológico de transmissão e preservação dos conhecimentos (já que o próprio Platão faz, em diversas ocasiões, uso dele), mas sim a uma dependência estrita da escrita. O modelo de racionalismo defendido por Platão também não é o prático, que poderíamos associar aos escritos de Descartes.
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