Qual elemento da arte popular é possível perceber na obra de Derlon?
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Resposta:
Almeida de Lima (Recife, Pernambuco, 1985). Grafiteiro e muralista. Baseando-se na xilogravura e investindo na expressividade de traços simples e reduzidos, cria obras que valorizam as diversas culturas do Brasil, especialmente as do Nordeste. Em trabalhos predominantemente monocromáticos, retrata o cotidiano, a religião e as celebrações de diferentes comunidades brasileiras.
Em 2007, Derlon exibe algumas obras na exposição coletiva Estética da Periferia, realizada no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), no Recife. No ano seguinte, é convidado para apresentar seu trabalho na exposição Narrativas em Madeira e Muro: Presença da Xilogravura Popular nas Obras de Samico e Derlon. Realizado no 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), o evento é parte das homenagens aos 80 anos do renomado gravador Gilvan Samico (1928-2013). Para a mostra, são criadas obras em duas paredes adjacentes: à esquerda, um mural gráfico incorpora elementos e personagens fantásticos da obra dos dois artistas, ampliados em fundo branco; na parede à direita, o painel A Festa, criação de Derlon, exibe animais mitológicos que saúdam, sob raios de sol, um casal. Com traços incisivos, a obra retrata uma cena alegre, em preto e branco, na qual se destacam o homem, vestindo azul, e a mulher, vestindo vermelho.
Os desenhos de Derlon são propositalmente simples e expressivos. Na maioria das obras, ele usa a cor preta sobre fundo branco. A opção estética do artista é reduzir traços e acentuar o poder comunicativo deles para criar os murais. O objetivo é “manter o peso visual, da forma mais simples possível”1, efeito que se obtém pela transposição da estética da xilogravura para a pintura mural. Essa pesquisa estética ganha fôlego em 2014, quando Derlon realiza uma residência artística em comunidades de agricultores de algodão no interior do Ceará. A pesquisa recebe o nome de Ouro Branco, em referência à cor e ao valor do algodão para os moradores.
Depois de viver quase duas semanas no sertão semiárido do estado, em comunidades de Riacho do Meio, Tauá, Choró e Quixeramobim, o artista produz 12 pinturas em fachadas de edificações como casas, igrejas, bares, cisternas e a associação dos agricultores. Usando tinta spray e rolo de espuma, aplica a cor preta sobre o fundo branco caiado das paredes, típico da região, e, com elementos da tradição local, retrata moradores de 72 famílias de algodoeiros em seu contexto social.
Em um dos desenhos, Derlon exibe casas sobre a cabeça dos personagens, inspirando-se no costume dos moradores de carregar baldes de água ou grandes volumes sobre a cabeça. A obra representa o apreço dos habitantes pela conquista e manutenção de seus lares e, ao mesmo tempo, expressa a importância da religião para a comunidade, uma vez que o quadrado de pontas triangulares, usado para representar as casas, alude a um oratório tripartido. A pesquisa se desdobra no registro fotográfico dos murais com os moradores da comunidade. Por meio da técnica lambe-lambe, as imagens em preto e branco são ampliadas sobre papel e coladas em partes, para formar grandes painéis sobre muros. Nesse formato, a mostra Ouro Branco é apresentada em espaços públicos de São Paulo, Recife, Rio de Janeiro e Paris.
Nas obras de Derlon, as referências à religião também estão presentes em trabalhos que retratam festas populares, como a de São João, e na representação de santos e outros elementos da iconografia católica. Nesse sentido, é emblemática a intervenção feita no muro da Paróquia Nossa Senhora Mãe Salvador, conhecida como Igreja da Cruz Torta, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Nela, Derlon desenha figuras religiosas como São Francisco, São João Batista e Santa Luzia, em grande formato e com poucos traços. As figuras são identificáveis pelos devotos por causa de elementos característicos, como o cordeiro carregado por São João.
Além do graffiti e da pintura mural, Derlon produz trabalhos tridimensionais e bidimensionais em outros suportes, como madeira e compensado. Também realiza intervenções comissionadas em edifícios e espaços públicos. No Itaú Cultural, em São Paulo, cria o mural da Ocupação Chico Science, em 2010. O monocromatismo e o aspecto gráfico de suas criações são encontrados em ilustrações para jornais, na capa do disco Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa (2011), da banda recifense de manguebeat Mundo Livre S/A, em cenografias para teatro e peças em cerâmica.
Com poucos e expressivos traços, Derlon amplia a visibilidade de culturas locais do Brasil, e sua obra torna-se relevante tanto pelas técnicas de gravura revisitadas quanto pelas temáticas brasileiras, que difunde por diversas cidades do país e do mundo.