Qual a temática tratada na letra de "Baby" de Caetano Veloso?
- trabalho de artes
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Resposta:
Escrita por Caetano Veloso e cantada por Gal Costa, Baby é uma meditação sonhadora sobre a cultura pop e a cultura de consumo no fim dos anos 60.
Ela começa com uma lista dos bens dos que você “precisa” — aquelas coisas sem as quais sua vida não está completa, se você quiser participar na cultura de massa da sociedade moderna:
Você precisa saber da piscina
Da margarina, da Carolina, da gasolina
Você precisa saber de mim
Baby, baby, eu sei que é assim
Baby, baby, eu sei que é assim
Um dos meus alvos nessa série de postes é produzir traduções das letras de qualidade superior às quais já estão disponíveis no web. Mas não tenho dúvidas ao respeito a como traduzir Você precisa saber aqui. Sempre imagino essa frase como se fosse falada por um locutor de rádio numa propaganda, exaltando as virtudes dos produtos de modernidade.
You need to know all about swimming pools
About margarine, Carolina [a popular Chico Buarque song], gasoline
You need to get to know me
Baby, baby, I know how it is
Ela continua a mesma tema na próxima estrophe:
Você precisa tomar um sorvete
Na lanchonete, andar com a gente, me ver de perto
Ouvir aquela canção do Roberto
Baby, baby, há quanto tempo
Baby, baby, há quanto tempo
Você precisa aprender inglês
Precisa aprender o que eu sei
E o que eu não sei mais
E o que eu não sei mais
You need to get some ice cream
At the lanchonete; walk with us, see me up close
Hear that Roberto [Carlos] song
Baby, baby, it’s been so long
You need to learn English
Need to learn what I know
And what I no longer know
And what I no longer know
Repare que isso não é apenas uma lista dos objetos materiais que se deve comprar para participar na cultura do consumidor — há também as coisas imateriais que são obrigatórias para a participação na nova cultura da massa. É necessário escutar os músicos de moda (Chico Buarque e Roberto Carlos), falar inglês (símbolo daquela cultura e marca da classe média), e possuir um carro. A cultura certa deve ser consumida tanto como os bens materiais certos.
Entre os objetos imateriais é o amor. Baby é cheia de declarações de amor — mas são sinceras, ou são declarações irônicas sobre a comodificação do amor como mais um “bem” que se pode comprar e vender? Será que Caetano estava respondendo numa forma irônica aos Beatles, que declararam só no ano anterior que a única coisa do que você precisa é o amor?
Não sei comigo vai tudo azul
Contigo vai tudo em paz
Vivemos na melhor cidade
Da América do Sul, da América do Sul
Você precisa, você precisa, você precisa
Não sei, leia na minha camisa
I dunno, everything’s cool with me
Everything’s peaceful with you
We live in the greatest city
In South America, in South America
You need, you need, you need
I dunno, just read it on my t-shirt
A frase Você precisa é repetida como mantra da época de comercialismo. A implicação é que tudo estará bom, se pelo menos você anda adquirindo bens materiais. A música é inundada pelas melódias doces das cordas, que justamente com o ritmo descontraido em 6/8, criam uma atmosfera sonhadora, e provocam o ouvinte a um delírio no qual ela consegue afogar as preocupações, fingindo que aqui no Rio, cidade maravilhosa, está tudo beleza. Consumo como droga. Ou seja, uma forma de panis et circenses que apaguiza e distrai as massas, eles que estão occupados em nascer, morrer — e consumir. Mas tudo isso é só uma fantasia, pois sabemos que nas ruas do Rio de verdade não está tudo beleza.
Baby, baby, I love you
Baby, baby, I love you
No fim da música, Gal e Caetano se unem num dueto em qual repetem essas quatro palavras em inglês — a língua importada da cultura de massa, a língua do rock n’ roll, a língua da propaganda. São as palavras mais simples, mais reconhecíveis, mais típicas da música anglófona. Quatro palavras, reduzidas a um simples palavrão de órdem numa camiseta.