História, perguntado por silesiapsgmailcom13, 10 meses atrás

qual a relação entre o capitalismo e a abolição no Brasil​

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Respondido por miriammorais715
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Uma só ideia percorre este livro: a escravidão, promovida e organizada pelos europeus no hemisfério ocidental entre os séculos XVI e o XIX, não foi um fato acidental da história econômica moderna. Não foi um fenômeno marginal, merecedor de opróbrio e vergonha, mas felizmente superado pela marcha triunfante do capitalismo e do regime contratual do trabalho livre que sempre parece caracterizar as economias moderna. A escravidão foi, antes de tudo, uma peça crucial nos primeiros momentos da formação do capitalismo mundial e do arranque da acumulação na Grã-Bretanha.

Entre meados do século XVI e a abolição em 1888 do tráfico no Brasil, mais de 14 milhões de pessoas, principalmente da África Ocidental e do Golfo da Guiné, foram arrancadas de suas comunidades de origem para ser deportadas às colônias europeias do Caribe, ao sul do que seriam os Estados Unidos e à costa brasileira. Foi precisamente o “gado negro” o que permitiu lavrar e cultivar as terras virgens das Antilhas depois do extermínio dos índios e das crescentes dificuldades para importar mão de obra europeia de forma suficiente. Foi também o trabalho escravo o que impulsionou o que poderíamos chamar a primeira agricultura de exportação: o cultivo de açúcar, mas também de tabaco e de algodão.

As plantações trabalhadas por escravos fizeram crescer o volume do comércio intercontinental, estimularam o desenvolvimento de todo um conjunto de indústrias de transformação (desde o refino de açúcar até as primeiras fábricas de tecido de algodão) e tornaram alguns portos atlânticos em prósperos comerciais. Assim foi como o tráfico co-triangular que da Europa levava para a África as quinquilharias (trapos, bijuteria, folha-de-flandres e espelhos) que depois eram trocadas por escravos, que depois eram vendidos na América e de cujos braços e pernas se extraiam as matérias-primas das primeiras manufaturas europeias, fez o capitalismo europeu, especialmente o capitalismo britânico. Sem as riquezas da América e sem os escravos e o comércio africanos, o crescimento econômico, político e militar dos Estados europeus teria ficado limitado, sem dúvida, a uma escala menor; talvez definitivamente menor. Com eles, o primeiro capitalismo se fez mundial e com toda razão, em Liverpool e em Bristol se dizia que “não há um só ladrilho na cidade que não esteja mesclado com o sangue de um escravo”.

A tese de Capitalismo e Escravidão é, portanto, uma tese radical. Na mesma medida em que apresenta cruamente o violento nascimento do capitalismo mostra o laço indissociável com a escravidão e os primeiros processos de acumulação nas duas orelhas do Atlântico. Do mesmo modo, à luz de sua leitura, a abolição do tráfico e da escravidão na Grã-Bretanha parece menos a obra dos lordes antiabolicionistas ingleses, que dos custos, crescentemente impagáveis, que supunha o monopólio do açúcar das Antilhas Britânicas frente aos novos interesses dos capitalistas industriais. Todo um exercício de materialismo cru, desprovido das tintas idealistas que ainda se utilizam por toda a parte na historiografia mais convencional.

O valor das afirmações deste livro é ainda maior se levado em conta o que foi escrito entre os anos 30 e 40; publicado em 1944, por um antilhano, Eric Williams, que fez parte de seus estudos em Oxford e na Universidade de Howard em Washington, a universidade negra por antonomásia dos EUA. Como não podia ser de outra maneira, Eric Eustace Williams foi também militante e ativista negro, responsável pela independência definitiva de Trinidad e Tobago e primeiro-ministro deste país entre 1956 e 1981.

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