Filosofia, perguntado por adry51, 10 meses atrás

qual a natureza dos valores que o autor Gianotti defende ?

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Respondido por cristhian122
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O filósofo francês Gilles Lipovetsky e o economista brasileiro Eduardo Giannetti trouxeram dois ângulos distintos a respeito da relação dos indivíduos com o mundo do consumo. Para Lipovetsky, o consumo não pode ser criticado nem idolatrado. A solução para o futuro, criando uma civilização consciente, responsável e sustentável, está na tecnologia e no investimento em educação e cultura. Giannetti, por sua vez, relacionou a crise ambiental com a crise psíquica dos indivíduos, cuja resposta estaria no resgate de valores mais primordiais. Estes foram os pontos centrais do debate especial da temporada 2017 do Fronteiras do Pensamento, intitulado Somos a civilização da leveza?

Considerado um dos gurus da pós-modernidade, Lipovetsky é um dos principais pensadores contemporâneos para os temas da moda e do consumo. Teórico da hipermodernidade, ele afirma que a leveza invadiu a nossa rotina e transformou o nosso imaginário, tornando-se um valor e um ideal. “Em todas as civilizações houve um lugar que foi dado à leveza. Por exemplo, na existência de festas, de jogos e de momentos de descontração. Mas também no imaginário. As sociedades sempre imaginaram poderem escapar do peso. O imaginário de Ícaro, por exemplo, que construiu asas com cera e se elevou na atmosfera. Tomado por uma embriaguez dessa leveza, ele acabou sendo queimado pelos raios do Sol.”

Lipovestky, então, perguntou: será que, nesta sociedade de leveza, o futuro nos reserva um destino similar ao de Ícaro? Ele explicou que a sociedade contemporânea de consumo em massa entrou em uma nova etapa: o hiperconsumo. Esta é uma era que se caracteriza pela excrescência de produtos, marcas e publicidade, e na qual somos tomados por uma lógica de pagamento e troca, que inclui até mesmo as coisas mais elementares da vida. “Sempre definimos a modernidade por conceitos como o desencantamento, a secularização, a racionalização. Mas eu acredito que há uma outra dinâmica, que foi colocada pela modernidade, que é a vontade de aliviar a existência. É uma bela fórmula de Nietzsche que diz que, para os modernos, há uma vontade de um alívio universal da existência. As culturas antigas sempre tiveram maneiras de aligeirar e aliviar a pena dos homens. Com a religião, com a magia, principalmente para preparar para o além. Enquanto que os modernos quiseram transformar a vida cotidiana, fazendo recuar a morte, o sofrimento e a fome. E a sociedade de consumo, que surgiu no meio do século XX, se inscreve nessa lógica.”

A sociedade de hiperconsumo se caracteriza por um imenso encantamento a respeito das coisas “leves”. Valores de peso como o trabalho e o sacrifício são abandonados em detrimento de outros como prazer e lazer. E a leveza de viver se resume à compra e à distração de massa num processo que funciona como o mercado da moda e que está em constante mudança de modelos. O objeto principal deste mundo do consumo, hoje em dia, é o smartphone, e a humanidade vive mais “leve” do que o próprio “leve”, inclusive nos nossos atos de consumo. “O paradoxo é que, à medida que o nosso mundo se encontra reestruturado pelo princípio da leveza, ele nos parece cada vez mais pesado. Nós vivemos mais tempo e em boa saúde e as grandes fomes no mundo desapareceram. No entanto, o estresse, a pressão e as ansiedades tornaram-se moeda corrente. O consumo, no início, parecia algo leve, que nos permitia viver tranquilamente, sem muitos problemas. Mas, na verdade, não é isso que acontece. O automóvel é uma coisa leve, mas hoje estamos o tempo todo em congestionamentos. Nada mais pesado do que os congestionamentos.”

O leve ficou pesado por excrescência de si mesmo. Nesse ritmo, as necessidades não param de crescer, mas o orçamento das famílias não cresce da mesma maneira. O resultado é que todo o esforço e o trabalho acabam sendo voltados apenas para o consumo e no sonho alimentado pelas pessoas de uma existência mais leve. “É a partir daí que vemos o crescimento de novas expectativas em relação ao consumo. Existem duas. Alguns defendem que, diante dessa proliferação de necessidades que a Terra não vai poder suportar, é preciso reduzir as necessidades. É preciso institucionalizar o que se chama de decrescência, o desconsumo. O imaginário da simplicidade voluntária, dizendo que é preciso retornar às coisas mais elementares. Vamos nos livrar desse peso excessivo do consumo que não nos torna felizes. E que então devemos defender uma nova sabedoria que consiste em reduzir as necessidades. E há, por outro lado, uma segunda escola que diz que finalmente o consumo não é tão ruim. 




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