Quais são as dificuldades dos atletas paraolímpicos para viver de exporte na atualidade?
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A principal dificuldade dos atletas é começar o treino e ter acesso à informação, diz o coordenador técnico de atletismo do Comitê Paraolímpico Brasileiro, Ciro Winckler, ao falar sobre as adversidades enfrentadas por aqueles que praticam esporte paraolímpico. Segundo ele, esses atletas não devem ser vistos como deficientes que praticam um esporte, mas como atletas com uma especificidade.
“Os atletas paraolímpicos são mais dedicados aos treinos”, afirma o treinador Leonardo Miglinas Cunha, da equipe da Associação Capixaba Paraolímpica de Desportes (ACPD). Há oito anos, a equipe, formada por voluntários, oferece aulas gratuitas de natação em um clube de Vitória. Os atletas amadores treinam três vezes por semana, os profissionais, todos os dias.
De acordo com Antônio Delfino, corredor de 38 anos, não é fácil ser esportista, mas com paciência e dedicação é possível “chegar lá”. Aos 17 anos, Delfino trabalhava como lavrador, quando sofreu um acidente de trabalho e teve seu braço direito amputado. Em 1989, ele mudou-se para Brasília em busca de melhores condições de vida e dez anos depois começou a correr. “Uns colegas de trabalho que corriam disseram que eu levava jeito para corrida de rua”, conta Delfino, que disputou e venceu sua primeira prova naquele ano.
Delfino já ganhou três medalhas paraolímpicas - duas de ouro nas Paraolimpídas de Atenas, em 2004, e uma de prata. Em 2003, ele conseguiu seu primeiro patrocinador, mas continua trabalhando: “Sou um dos poucos que trabalha. Para alguns [o patrocínio] não dá pra viver.”
A falta de apoio foi apontada pelo treinador Cunha como a maior dificuldade para os atletas paraolímpicos. Winckler confirma a dificuldade: “As pessoas encaram o apoio financeiro nas Paraolimpíadas como ajudar um coitadinho. Queremos que ajudem pelo tempo dos atletas, pela relação custo-benefício”. Nas últimas Paraolimpíadas, em Pequim, em 2008, o Brasil melhorou sua posição no quadro de medalhas, ficnando em 9º lugar.
Segundo Winckler, ainda faltam treinadores interessados nessa área. "Os profissionais não querem trabalhar na área por acomodação, para não ter que estudar”, afirma. Isso faz com que não haja muitos locais de treinamento.
Cerca de 800 atletas estão reunidos em Brasília para a etapa regional Centro-Leste do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo, Halterofilismo e Natação. As competições estão sendo realizadas desde ontem (25), no Centro Interescolar de Educação Física (Cief), no Hotel Nacional e no Parque Aquático do Complexo Esportivo Ayrton Senna. As provas continuam sendo disputadas hoje.
Patrocínios
Conquistar cinco medalhas em mundiais de atletismo paraolímpico – duas de ouro e três de bronze – e estar em primeiro no ranking brasileiro de sua modalidade, com um currículo no qual constam dois recordes nacionais, pode não significar tranquilidade para um atleta quando busca patrocínio.
“A deficiência física nunca me impôs dificuldade nenhuma. Apenas me ajudou, porque é um meio que tenho para obter mais e mais conquistas. Infelizmente não basta esforço e superação para que um para-atleta consiga vencer seu obstáculo mais difícil: a falta de patrocínio”, argumenta Thiago de Souza, 18 anos, o primeiro do ranking brasileiro de corrida com cadeira de rodas e dono de dois recordes nacionais e duas medalhas de ouro e três de bronze.
Até o início da tarde de hoje (26), Thiago havia conquistado três medalhas de ouro durante os dois dias de competição do Circuito Brasil Paraolímpico. “Mas ainda não conquistei nenhum patrocinador. A gente até tenta, mas nunca conseguimos chegar em quem dá a palavra final para o patrocínio”, lamenta.
Em competições desde os 14 anos, Thiago é o recordista brasileiro dos 100 e 200 metros na modalidade atletismo para cadeirantes, popularmente conhecida por corrida de cadeira de rodas. Segundo ele, o maior problema encontrado por atletas de sua modalidade é a reposição de equipamentos. “Estou sem verbas inclusive para comprar o pneu da minha cadeira”, diz.
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Já consegui apoios como o do colégio onde estudei [Notre Dame, em Brasília] e de amigos e parentes, que participam dos bingos e das rifas que eu organizo. Geralmente os patrocínios que ocorrem com um ou outro atleta é motivado por indicações. Mas isso é uma minoria. Praticamente todos que conheço estão passando por dificuldades decorrentes da falta de empresas patrocinadoras.